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A experiência do amor não correspondido, e de todos os sentimentos conflitantes que acabam vindo junto com ele, é o tema desta Coluna de Opinião (Foto de Inzmam Khan para Pexels) |
AVISO AOS LEITORES: ao contrário de nossas reportagens, a Coluna de Opinião traz, como o próprio nome já diz, a opinião de quem a escreve sobre fatos concretizados, não representando necessariamente um posicionamento oficial do Podcast Cafezinho com William Lourenço, enquanto veículo de imprensa (emitido somente por meio de nossos Comunicados Oficiais e Editoriais).
Por João Gabriel Silva
O luto não se resume somente ao sentimento pela morte de um familiar; ele está ligado ao apego que temos, seja por um emprego, uma amizade, um relacionamento ou até mesmo o luto por um amor que nunca se concretiza. Isto é: um quase amor, uma vivência emocional intensa e frequentemente imperceptível, porém não menos agonizante do que a perda de um relacionamento genuíno, tendo um poder que pode ser arrasador na vida de alguém.
Esse tipo de luto se evidencia quando alimentamos emoções profundas por alguém que não as corresponderá ou ainda quando uma relação promissora permanece irrealizada. Ou seja, uma pessoa está em uma página cheia de expectativas, enquanto a outra nem abriu o livro.
Ao longo desse processo, experimentamos uma verdadeira montanha-russa emocional, que vai da apatia à raiva de si por não entender os motivos do fracasso. A esperança, que um dia foi radiante, pode eventualmente ceder espaço à frustração e à melancolia. Cada instante de silêncio, cada mensagem visualizada e não respondida, cada palavra monossilábica ou encontro efêmero transforma-se em um lembrete angustiante daquilo que almejávamos, mas que jamais conquistamos.
Experienciamos um paradoxo emocional: um amor que habita somente em nosso interior, desprovido de qualquer manifestação no mundo tangível. A simples lembrança da pessoa desejada causa um sentimento de vazio, um terrível lembrete da frustração das expectativas criadas, em outras palavras, há um destoar da realidade, nesse sentido, vemos um brilho em algo que parece ideal, mas que na verdade pode não ser, claro que a dúvida muitas vezes é um preço caro demais a se pagar.
Um dos aspectos mais complexos desse luto reside no tempo necessário para sua devida assimilação. Reexaminamos recordações e efêmeros instantes, conferindo-lhes uma gravidade que possivelmente nunca tiveram.
"E se...”? Esta indagação ressoa em nossos pensamentos, gerando cenários fictícios que nos mantêm cativos em um ciclo de ilusões e nostalgias. Revive-se cada cena, cada palavra dita e não dita, na tentativa de encontrar o erro (ou erros) e, quem sabe, corrigi-los.
Entretanto, experimentar essa dor não denota fragilidade, mas sim uma expressão da própria condição humana: uma condição complexa e cheia de idas e voltas que não se compreende sem a devida autoanálise. É necessário voltar-se para si e tentar perceber as origens dessa intensa rede de sentimentos que nos levam a criar tais expectativas irreais.
Conceder-se à experiência e à compreensão dessa perda constitui o primeiro passo rumo à cura. Manifestar tais emoções, seja por meio de diálogos com conhecidos, da prática da escrita ou da reflexão interior, favorece a aceitação e a reinterpretação dessas experiências.
Com o passar do tempo, o vazio deixado por esse amor idealizado pode ser preenchido por um profundo autoconhecimento e um robusto fortalecimento emocional.
Por último, essa experiência de luto nos instrui a apreciar os relacionamentos autênticos e as conexões verdadeiras que somos capazes de cultivar.
Amar alguém que jamais será nosso é uma manifestação profunda do desejo humano por conexão e pertencimento, que tem raízes mais profundas do que pensamos. Muitas vezes, isso está ligado à nossa infância e às nossas figuras de apego, pois são elas que servem de parâmetro para nossas tentativas de encontrar alguém para conviver e amar na vida adulta.
Entretanto, apesar de a dor ser intensa, ela pode servir como um guia em nossa jornada de autodescoberta, levando-nos, por fim, a experienciar um amor verdadeiro, recíproco e pleno. Às vezes, é necessário sofrer o peso da dor para entender o prazer do verdadeiro amor.
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