PESSOAS QUE VIVEM COM ANEURISMA TÊM MAIS RISCO DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO

 

Estudo mostra que probabilidade é maior entre pessoas com menos de 40 anos diagnosticadas com aneurismas que não romperam; entenda por quê



Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Quem vive com um aneurisma cerebral não roto — isto é, que não rompeu — e tem sua condição apenas monitorada está mais propenso a desenvolver problemas de saúde mental como ansiedade e depressão. É o que sugere um novo estudo, realizado por pesquisadores da Coreia do Sul e publicado no periódico Stroke. Segundo a pesquisa, o risco é especialmente alto entre pessoas com menos de 40 anos.

A investigação se baseou em um banco de dados nacional sul-coreano. Ao longo de dez anos, 85 mil indivíduos diagnosticados com aneurisma não roto foram monitorados e comparados a 331 mil pessoas de um grupo controle.

Os autores também mediram a incidência de doenças mentais durante esse período usando códigos da CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) para ansiedade, estresse, depressão, transtornos bipolares e alimentares, insônia e uso indevido de álcool ou drogas.

Os autores encontraram uma taxa de incidência de doença mental maior na turma com aneurisma não roto em comparação ao grupo controle: 113,07 casos a cada 1.000 pessoas versus 90,41 a cada 1.000 pessoas.

“Os resultados do estudo evidenciam que médicos que tratam aneurismas cerebrais devem estar cientes de que a carga psicológica causada pelo diagnóstico de um aneurisma pode contribuir para doenças mentais e devem se esforçar para proporcionar um atendimento direcionado também com essa abordagem para esses pacientes”, comenta a neurologista Polyana Piza, do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia.


O que é aneurisma?

Um aneurisma cerebral é uma dilatação anormal da parede de um vaso sanguíneo no cérebro, que ocorre como consequência da fraqueza dessa parede. Frequentemente, o problema está relacionado a alterações genéticas que modificam a constituição do colágeno da parede do vaso sanguíneo ou mesmo por exposição a fatores de risco que agridem essa estrutura, como hipertensão arterial e tabagismo. É considerada uma condição potencialmente grave, uma vez que pode levar à ruptura do vaso sanguíneo e causar hemorragia intracraniana.

O diagnóstico do aneurisma pode se dar por acaso, quando a pessoa faz um exame de imagem da cabeça (como tomografia ou ressonância magnética) para investigar outras doenças – nesses casos, ele é chamado de aneurisma “não roto” ou aneurisma “incidental”. Outra forma de diagnosticar o problema é quando o paciente apresenta a ruptura desse aneurisma e os sintomas provocados por esse evento motivam a realização dos exames de imagem cerebrais.

Segundo Piza, o tratamento do aneurisma pode variar dependendo do tamanho, da localização, do estado geral do paciente, da idade e de outras comorbidades. “Alguns aneurismas não rotos pequenos, que não apresentam sintomas, podem apenas ser monitorados, pois o risco de ruptura é estatisticamente menor quando comparado ao risco da abordagem cirúrgica ou intervencionista”, diz a médica.

Quando são identificados riscos aumentados para ruptura do aneurisma, as opções de tratamento incluem neurocirurgia aberta para clipagem do aneurisma ou intervenções menos invasivas, como a embolização. Nesse procedimento, um cateter é utilizado para chegar ao aneurisma e colocar fios chamados de “molas” para bloquear o fluxo sanguíneo que chega à região. Outra opção é aplicar um stent difusor de fluxo para normalizar a circulação do sangue naquele vaso.

“A decisão sobre o tratamento é baseada na avaliação clínica do paciente e em características específicas do aneurisma. O paciente exposto a um diagnóstico de aneurisma lida frequentemente com sintomas complexos como angústia, medo e incerteza. A existência desses sentimentos pode desencadear um ciclo de estresse, ansiedade e depressão que levam a desequilíbrios psicológicos com impacto na qualidade de vida”, observa Piza.


“Sentar e esperar”

Foi o que aconteceu com a consultora de relações internacionais Marcela Santos* (nome trocado a pedido da entrevistada), hoje com 33 anos. Ela mora nos Estados Unidos e descobriu ter um aneurisma por acaso, após sentir uma parestesia no braço. Esse é o nome da sensação de picadas, formigamento ou dormência em partes do corpo, que pode ser transitória ou persistente. No caso dela, também se espalhou pelo resto do corpo.

Vários exames foram realizados para descartar danos nas terminações nervosas, entre eles, uma tomografia de cabeça e pescoço. “Nessa bateria de exames, os médicos encontraram o aneurisma. Quando você é tão jovem [na época, Marcela estava com 32 anos] e descobre que tem um aneurisma na cabeça, a primeira coisa que pensa é que vai morrer a qualquer momento. E o plano de ação de tratamento do aneurisma em uma paciente jovem como eu era sentar e esperar. Isso é muito difícil”, conta.

Como o aneurisma era pequeno e ela não tinha outros fatores de risco ou comorbidades associadas, os médicos avaliaram que não havia risco de rompimento e a conduta foi monitorar e acompanhar a evolução a cada seis meses. Ela até refez a tomografia no prazo indicado, mas, nesse período, teve que voltar ao Brasil às pressas para cuidar de uma emergência familiar. Por isso, não se atentou aos resultados do segundo exame.

Quando voltou para os Estados Unidos, retornou ao neurologista e, ao abrir o laudo, o médico observou que no período de seis meses o aneurisma tinha dobrado de tamanho e as dimensões também haviam mudado: ele estava disforme, o que aumenta o risco de ruptura. Foi então necessário colocar um stent para normalizar o fluxo sanguíneo naquela região.

“O meu aneurisma estava num local muito crítico, atrás dos olhos, e tinha aumentado muito de tamanho num curto espaço de tempo. Se rompesse, eu corria muitos riscos, inclusive de morte. Mas deu tudo certo e nos primeiros três meses após a intervenção tudo normalizou e estou com uma qualidade de vida muito melhor”, comemora.

Apesar do estresse de ficar monitorando o aneurisma, ela lembra que é melhor descobrir o problema e evitar um acidente vascular cerebral (AVC). “Monitorar é o único caminho e é o melhor que podemos fazer. Mas esse é um diagnóstico muito incerto e a gente fica em dúvida sobre o nosso futuro.”


Fonte: Agência Einstein

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