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AVISO AOS LEITORES: ao contrário de nossas reportagens, a Coluna de Opinião traz, como o próprio nome diz, a opinião de quem a escreve sobre fatos concretizados e não reflete necessariamente um posicionamento oficial do Podcast Cafezinho com William Lourenço (trazido somente em seus Editoriais e Comunicados Oficiais).
Por William Lourenço
Enfim a eleição municipal foi concluída: um período que, embora seja empolgante para alguns, é estressante e perigoso para muitos. Sobretudo, aos que precisam se expor de alguma forma ao eleitorado. O clima de polarização (o famigerado "nós contra eles") lançado nestas campanhas faz com que indivíduos se portem como animais selvagens ao visualizarem outras pessoas com uma camisa de cor diferente daquela do seu político preferido. A raiva destas pessoas, muitas vezes, é transformada em voto: igualmente digitado com raiva na urna eletrônica.
Passado o domingo de eleição, apurou-se que a maioria dos votos válidos na votação para Prefeito em Buíque foi para o atual vice-prefeito Túlio Monteiro (MDB). Com isso, ele substituirá Arquimedes Valença no comando do município no ano que vem. E porque eu frisei que foi com a maioria dos votos válidos?
Pra quem ainda não sabe, numa eleição, os percentuais levados em consideração para eleger alguém são extraídos dos chamados votos válidos (aqueles que foram dados de forma correta na urna a um ou outro candidato). Os votos nulos e em branco ficam de fora dessa contagem, além das abstenções (pessoas que nem se deram ao trabalho de ir votar). Buíque tem 41.468 eleitores aptos a votar no município, só que neste domingo compareceram apenas 31.108 (75,02% do total). Destes, 1.614 votaram nulo e 388 votaram em branco, sobrando apenas 29.106 votos válidos para a apuração. E é em cima desse número que foram extraídas as seguintes porcentagens.
Túlio conseguiu 16.044 votos, o que dá 55,12% dos votos válidos. Seu adversário, Jobson Camelo (Republicanos), ainda conseguiu 13.062 votos, o que dá 44,88% dos votos válidos. A diferença ficou em 2.982 votos. Esse é o resultado oficial do TSE.
Pegando os votos válidos, brancos e nulos de Buíque, Túlio Monteiro ainda garantiria sua vitória, mas com uma porcentagem ligeiramente menor: 51,57%; enquanto que Jobson ficaria com 41,99%. Os votos nulos permaneceriam nos 5,19% divulgados pelo TSE, enquanto os votos em branco permaneceriam em 1,25%.
E se ainda fosse fazer a apuração levando em conta todo o eleitorado apto (41.468), teríamos aí o seguinte resultado: Túlio ficaria com 38,69% dos votos e Jobson ficaria com 31,5% dos votos. A abstenção foi de 10.360 pessoas, ou 24,98%. Votos nulos ficariam em 3,89% e os votos em branco chegariam a 0,94%. Daqui, se é possível fazer o seguinte prognóstico.
A rejeição à atual gestão, especialmente pelos atos públicos que pegaram muito mal perante a opinião pública nos últimos dois anos, impediu que Túlio Monteiro obtivesse uma vitória mais tranquila na disputa eleitoral. Por mais que ele fosse o vice-prefeito e que, na prática, pouco poder ou responsabilidade tivesse nestes atos, seu vínculo político com Arquimedes Valença acabou por sujar sua imagem perante os que se opõem a seu tutor e a dar uma sobrevida à oposição. A rejeição ao sobrenome Camelo (de seu adversário Jobson) foi algo que o ajudou na conquista da cadeira de Prefeito, mas a promessa de continuidade dos 20 anos de administração meia-boca do Valença não o permitiu a tão sonhada "lapada" no domingo. Pior: a boa votação obtida por Jobson numa campanha consideravelmente mais modesta que a sua também o pressiona a fazer uma verdadeira gestão em cima de atos por todo o território em cada um de seus quatro anos de mandato.
As abstenções numa eleição, assim como aqueles que vão à urna e votam em branco ou nulo pra Prefeito, também são um sinal de alerta ao vencedor do pleito; pois indicam que as opções que ali se apresentam não são dignas de seu esforço para digitar qualquer número naquele urna. Ou, nem mesmo, de sair de casa para ir à urna. Se alguém não gosta de você e não faz questão de gostar de você a ponto de lhe dar um voto de confiança, a crítica em cima daquilo que fizer de errado será muito maior e ainda mais pesada. E pra agradar tais chatos, o próximo Prefeito terá que fazer em quatro anos o que o atual não foi capaz de fazer em duas décadas. De qualquer forma, ele terá que se desvincular de Arquimedes e se apresentar ao povo com seu próprio nome e suas próprias convicções. Fora que ele herdará todos os problemas administrativos, financeiros e de natureza política do seu mestre.
Porém, após a vitória nas urnas e antes de assumir de fato seu mandato, Túlio Monteiro ainda terá que vencer a Justiça Eleitoral. Lembremos que existem em tramitação duas Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) que, em tese, pedem sua inelegibilidade por oito anos: o que anularia sua vitória. Uma delas está nas mãos do Juiz Eleitoral desde quinta-feira (prazo em que se encerraram as alegações finais das partes citadas) que, sendo o único na Comarca para analisar todos os processos (até os comuns), não irá proferir sentença alguma no prazo que a oposição tanto queria. Talvez, a depender da data, sua sentença nem tenha os efeitos que a oposição tanto queria... Se, de fato, houver decisão desfavorável ao Túlio enquanto candidato.
Supondo então que ele consiga passar por esse turbilhão no tribunal e esteja apto para a diplomação e, enfim, seja empossado como Prefeito. A Câmara de Vereadores terá maioria situacionista e, assim, os projetos de lei do Executivo sob sua gestão em benefício dos buiquenses passarão com facilidade. Daí, o trabalho não vai parar. Será?
Os vereadores são, no aspecto histórico municipal, por maioria, atrelados ao chefe do Executivo unicamente por interesses próprios e escusos. Seja por indicação de parente pra contrato ou combinação de uso de qualquer bem público para seu benefício, eles também são os maiores responsáveis pelo atraso e falta de desenvolvimento de Buíque em todo seu território. Quando o próximo prefeito não quiser dar aquilo que estes querem, suas posturas irão desde o boicote aos projetos de lei do Executivo até, sei lá, um pedido de cassação de mandato.
Dos 15 eleitos para a Câmara, apenas quatro que já tinham mandato conseguiram se reeleger. Destes quatro, Aline de André de Toinho (MDB) foi a mais votada, pela boa avaliação que foi feita sobre seu mandato: discreto, sem envolvimento com polêmicas e até propositivo em alguns temas. Em tese, ela é cotada para ser a próxima Presidente da Câmara. Significa que será ela? Não!
Quatro dos eleitos já haviam sido vereadores em outras ocasiões e, em seus mandatos, tiveram muito pouco (pra não dizer, quase nada) de serviços prestados ao município. Diria, inclusive, que são os representantes da infeliz e velha política. E que seus retornos à Câmara significam até que houve um retrocesso na atividade legislativa.
O Dodó é o maior exemplo. Já passou por lá sete vezes. Agora, serão oito. É, talvez, o maior defensor da separação do Distrito do Guanumbi do território buiquense para se tornar um município próprio. E, deve-se lembrar sempre disso, é réu em um processo de improbidade administrativa, por suposta prática de apropriação indevida de dinheiro público enquanto era Presidente da Câmara de Vereadores. Lembram do assessor dele, o Salomão Galdêncio Barbosa? Virou seu mais novo colega de Plenário, o Salomão Dentista. Até que haja uma decisão judicial que ateste suas inocências e que os absolva de tudo aquilo que o Ministério Público de Pernambuco os acusa, pessoalmente, eu não consigo levar tais indivíduos a sério ou demonstrar qualquer tipo de respeito por quem, até aqui, tem uma pendência judicial como essa.
A transparência da Câmara de Vereadores, tão exigida pela população e que, a duras penas, avançou nos últimos quatro anos também corre risco com sua nova composição. Afinal, qual destes da "velha política" vai querer ser cobrado pelos eleitores por... pasmem... sua atividade parlamentar? E não podemos esperar uma postura transparente nem dos outros sete que chegam à cadeira de vereador pela primeira vez: afinal, os conheceremos enquanto parlamentares só ano que vem...
Até o dia 1º de janeiro de 2025, uma coisa só é certa: nada está certo. E a última coisa da qual os buiquenses precisavam seria um cenário de indefinição, mesmo com um resultado de urna já definido. Que todos os eleitos tenham um bom mandato, quando assumirem, e boa sorte: eles irão precisar, e nós mais ainda.