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AVISO AOS LEITORES: ao contrário de nossas reportagens, a Coluna de Opinião traz, como o próprio nome diz, a opinião de quem a escreve sobre fatos concretizados e não reflete necessariamente um posicionamento oficial do Podcast Cafezinho com William Lourenço (trazido somente em seus Editoriais e Comunicados Oficiais)
Por William Lourenço
O ditador, segundo muitos dicionários, é aquele indivíduo que resolve concentrar todos os poderes públicos em si. Se aqui no Brasil, dizemos ter um Poder Executivo (que executa as coisas), um Legislativo (que faz as leis) e um Judiciário (que julga); numa ditadura, tudo isso pode ser feito por uma só pessoa.
Em tempos mais modernos, os ditadores colocam capachos de sua mais alta confiança para controlarem tais poderes, de modo que passe uma falsa impressão da democracia a plenos pulmões naquela localidade. O resultado é sempre o de usar o Estado contra seus críticos e desafetos, e jamais permitir sua retirada do poder. As decisões que saem do Judiciário serão sempre a favor daquele regime e todas as leis promulgadas serão em benefício do ditador e de quem lambe suas botas. Até as tais eleições, que servem em tese para que o povo tenha a oportunidade de renovar quem ocupa a Presidência de determinado país, ali não servem pra bosta nenhuma. E é aqui que entra a Venezuela e Nicolás Maduro Moros.
O então maquinista de Metrô em Caracas, capital do país, resolveu entrar nesse mundo tão podre e escroto da política em 1998, quando Hugo Chávez se elegeu Presidente. No ano seguinte, conseguiu se tornar deputado, mas o pior ainda estava por vir.
Após sete anos na Assembleia Nacional (a Câmara dos Deputados de lá), Maduro vira Ministro das Relações Exteriores. Curiosamente, o Lula já era Presidente do Brasil nesta época e as relações entre os dois países ficaram ainda mais próximas. Mas o pior ainda estava por vir...
Em 2012, Chávez (que já era Presidente da Venezuela há 13 anos) vence mais uma disputa. Só que ele também descobre que estava com câncer e Maduro, que havia se tornado o vice-presidente, assume o posto enquanto seu líder se tratava.
O Hugo não volta, morrendo em 5 de março de 2013. O Nicolás fica como Presidente interino até que ocorressem novas eleições, o que aconteceu no mês seguinte e o elegeu pela primeira vez. Mas o pior ainda estava por vir...
Usando a desculpa esfarrapada de que seu governo ajudaria os mais pobres, os trabalhadores, os camponeses e até os mendigos, ele prometeu uma verdadeira revolução no país ainda em luto pela morte de um Presidente e que vinha ganhando destaque internacional pela sua produção de petróleo. No primeiro ano de mandato, sua aprovação era alta e tudo parecia ir muito bem, mas mal sabiam que o pior estava por vir, já a partir de 2014...
A crise financeira e política na qual entrou nosso vizinho desencadeou diversos protestos de pessoas que esperavam prosperidade, mas ficaram extremamente pobres. Protestos estes que vieram a piorar ano após ano, com o controle do Presidente cada vez mais evidente no Poder Judiciário e, depois, na repressão cada vez mais violenta a todo e qualquer crítico a seu governo. As eleições, que chegaram a ser consideradas confiáveis, passaram a ter cada vez menos transparência na apuração, pois o Conselho Nacional Eleitoral (o TSE de lá) também foi controlado pelo Nicolás: o único a ganhar todas as eleições presidenciais que disputou e até os referendos sobre temas nacionais que o favoreciam (como a invasão e tomada, por seu exército, do território de Essequibo: que pertence à Guiana).
Veículos de imprensa, sem ser os estatais, praticamente não existem. Muitos observadores internacionais para acompanhar a apuração das eleições deste domingo foram impedidos de entrar na Venezuela. Fronteiras terrestres e espaço aéreo foram fechados. Diplomatas de países latino-americanos que já demonstraram insatisfação com o resultado e até apontaram fraude já começam a ser expulsos. E o Brasil, onde entra aqui?
Por causa da proximidade ideológica que Lula e a dita esquerda brasileira cultivam com Maduro há anos, o governo brasileiro se colocou em uma sinuca de bico diplomática no continente. Desde o início da crise lá, milhares de venezuelanos resolveram fugir e procurar melhores condições de vida aqui. A promessa do venezuelano de promover um banho de sangue e uma surra generalizada se perdesse o pleito, e até o fato dele falar que nossas urnas podiam ser fraudadas (já ouvi isso em algum lugar), colocou um holofote ainda maior em nosso país e em nosso Presidente, jogando a seguinte dúvida: será que ele defende de fato a democracia ou vai ficar do lado do "companheiro"? A depender da resposta (que muitos já sabem), a tal da imagem do Brasil que visavam recuperar ficará ainda mais feia do que já está. E até a demora na resposta já nos complica...
Só pra vocês terem ideia de como a coisa tá feia pro Lula, até o Gabriel Boric (presidente do Chile e de esquerda) já disse desconfiar do resultado da eleição venezuelana. Os diplomatas de seu país foram expulsos, claro, mas ele mostrou ter mais culhão como Chefe de Estado em se posicionar que o nosso.
Cidadãos estão, aos poucos, indo às ruas para fazer protestos (o que eu, pessoalmente, duvido dar algum resultado, mas não custa tentar). Que o Maduro cederá à pressão e largará o osso depois de 11 anos, é praticamente impossível, mas para muitos daqueles que defendiam ferrenhamente seus atos, depois dos recentes acontecimentos, ficou evidente que se manter ao lado dele é ficar do lado mais apodrecido que existe na América Latina (e até da própria esquerda no mundo).