Neste Dia dos Namorados, o Podcast Cafezinho traz de presente uma Coluna de Opinião romântica. Ou não (Foto de KawaiiArt1980 para Pexels) |
AVISO AOS LEITORES: ao contrário de nossas reportagens, a Coluna de Opinião traz, como o próprio nome diz, a opinião de quem a escreve sobre fatos concretizados e não reflete necessariamente um posicionamento oficial do Podcast Cafezinho com William Lourenço (trazido somente em seus Editoriais e Comunicados Oficiais)
Por João Gabriel Silva
Para responder essa pergunta, é preciso primeiramente conceituar a ideia de amor, pois ao longo da história ela tem passado por diversas transformações.
Os gregos usavam três palavras diferentes para se referir ao amor: Ágape, Philos e Eros. Cada qual com seu sentido.
Por exemplo: o Philos ou Philia significa, em poucas palavras, Amor Amizade ou Natural fundado no bem-estar e desenvolvimento do outro, baseando-se na admiração mútua entre ambos. Um sentimento que não busca aprisionar o outro, mas sim completá-lo. Pode ser também o amor pelos familiares: pai, mãe, irmãos, tios etc.
Em seguida, temos o Ágape ou o Amor Caridade, ou cuidado com seu irmão: é uma forma mais espiritual de sentimento pelo próximo. Essa definição foi bastante utilizada pelo cristianismo para representar um dos pilares de sua religiosidade: a preocupação para com seus familiares espirituais, o cuidado com os necessitados, a representação do amor de cristo para conosco revelado nas sagradas escrituras.
Por fim, temos o Eros ou Amor paixão ou Desejo: forma de sentir mais comum nos dias atuais, onde as relações são baseadas unicamente no desejo, na atração sexual causada pelo outro, onde o mesmo é tratado como um objeto de satisfação que existe em função de realizar suas fantasias. Não há nele uma conexão mais profunda entre as partes. Esse é, talvez, o “amor da modernidade”.
Antes disso, temos os medievais que idealizaram amour fine (isto é, “amor fino”, amor nobre e puro): onde o cavaleiro cortejava a nobre e pura dama, idealizando-a à espera de um amor sincero e desinteressado, ou seja, era um misto de Philia com Eros; uma vez que o cavaleiro, além de esperar essa cumplicidade, concomitantemente desejava possuí-la de forma carnal.
Essa junção levaria à perfeição da relação, coisa que será explorada mais a fundo nos romances de cavalaria e mais tarde nas obras de poetas como Dante, Shakespeare, entre outros. Essa concepção ainda virará mais tarde um movimento que levará até às últimas consequências a idealização desse anseio.
O Romantismo representou a última fronteira entre real e ideal, visto que, em nome do amor romântico, as pessoas chegavam a suicidar-se na impossibilidade de realizar por completo a ilusão do amor. Nesse momento, a literatura desnudou as nuances dessa emoção como em "Os sofrimentos do jovem Werther", de Goethe: livro que provocou uma onda de suicídios na Europa, pois todos queriam ser como Werther que, impossibilitado de viver seu amor por Charllote, opta por abandonar a existência. Seria para ele o gesto final da abdicação pelo outro. Isso marcou toda a história do mito sobre o amor explorado pela literatura dos séculos XVIII e XIX.
Assim se criou a mitologia do amor: definições diferentes formam um conjunto igual e no fim esse sentimento continua inexplicável. Apenas sua vivência exprime seu real sentido. O romantismo acabou, o desejo prosperou, mas no fundo, a doce ilusão do encontro com amor ideal persiste no cerne de nossas ilusões. Mesmo que a superficialidade tenha tomado as rédeas, ainda temos livros, músicas e a arte para conservá-las.
Por um longo tempo, o amor foi idealizado, colocado em um patamar alto nas aspirações humanas. Encontrar o grande amor da vida estava entre os sonhos mais vorazes dos mais jovens, contudo isso foi ficando para trás em uma sociedade de rápidas transformações: “o grande amor” foi substituído por lances rápidos que servem apenas para abarcar a solidão característica desse nosso ꟷ até agora ꟷ breve século XXI.
Então o que realmente significa o amor? Bom, a Filosofia, a História, a Psicologia produziram significados para ele, porém cada pessoa pode ter o seu significado. Afinal, é um sentimento que atinge de formas diferentes: em princípio é uma afeição, carinho ou até mesmo um grande desejo por alguém ou por algo, uma vez que pode-se amar ꟷ talvez não deveria ꟷ, alguns objetos ou animais. Ou seja, ele carrega uma particularidade: a de ser livre a escolha sobre o mesmo; ninguém é obrigado a amar a outrem, há um poder de escolha nisso.
Liberdade e amor são uníssonos e inseparáveis, contudo, já diria o filósofo francês Blaise Pascal: "O coração tem razões que a própria razão desconhece".
Em outras palavras, algumas vezes o coração toma a liberdade de escolher o amor ao qual deveremos lutar, sem dar margem à razão.
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