Estudo mostra que quem come depois das 21h tem probabilidade 28% maior de desenvolver males cardiovasculares do que quem se alimenta antes das 20h |
AVISO: o conteúdo a seguir foi produzido pela Agência Einstein, ligada ao Hospital Israelita Albert Einstein, e publicado pelo site do Podcast Cafezinho com autorização |
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
Há muito tempo, sabe-se que ter uma alimentação saudável é fundamental para saúde como um todo. Mas, nos últimos anos, a ciência demonstrou que o horário em que as refeições são realizadas parece impactar de modo significativo a saúde, especialmente a cardiovascular. Agora, um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisa de Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente da França e publicado na Nature corrobora essas evidências e aponta que fazer as refeições mais cedo ao longo do dia reduz o risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
Segundo a pesquisa, quem se alimenta pela primeira vez às 9 horas tem 6% mais risco de desenvolver uma doença cardiovascular do que quem faz o desjejumàs 8h. No caso da última refeição do dia, o aumento do risco é de 28% para quem comer depois das 21h, comparando com aqueles que comem antes das 20h. Os autores dizem que cada hora adicional de atraso no café da manhã foi associada a. Ou seja: se alimentar mais cedo ao longo do dia tende a ser o mais recomendável para a saúde.
De acordo com a nutricionista Serena del Favero, do Hospital Israelita Albert Einstein, geralmente qualquer ingestão calórica é considerada parte do padrão alimentar do indivíduo em estudos desse tipo. Isso inclui não apenas refeições completas, mas também lanches menores e o ato de beliscar durante o dia. Portanto, mesmo pequenos lanches podem influenciar o relógio biológico e impactar os resultados relacionados à saúde. “Esse estudo é extremamente relevante porque aborda um tema muitas vezes negligenciado da dieta, que são os horários em que as refeições são realizadas e sua sincronização com os ritmos circadianos (a área da nutrição conhecida como crononutrição), que são essenciais na regulação de várias funções corporais, incluindo o metabolismo cardiovascular”, diz del Favero.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram dados de mais de 100 mil pessoas, com a idade média de 42 anos. Com base nos registros alimentares dos voluntários, eles investigaram se havia alguma associação entre os horários de ingestão de comida, o tempo que ficavam em jejum e o desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Em cerca de sete anos de acompanhamento, ocorreram 2.036 incidentes cardiovasculares: 988 casos de doenças cerebrovasculares (253 registros de Acidente Vascular Cerebral [AVC] e 765 de ataque isquêmico transitório) e 1.071 casos de doenças coronarianas (162 registros de infarto do miocárdio, 428 de angioplastia, 89 de síndrome coronariana aguda e 428 de angina de peito).
“Os resultados do estudo são bastante reveladores e têm implicações importantes para a vida das pessoas, especialmente considerando os hábitos alimentares modernos. O fato de que o atraso de apenas uma hora na primeira refeição pode aumentar em 6% o risco de desenvolver doenças cardiovasculares mostra como até pequenas mudanças nos horários de alimentação impactam de modo significativo a saúde”, comenta a nutricionista.
Os autores ainda constataram que a duração do jejum noturno também está associada a uma redução do risco de doenças cardiovasculares. Ou seja: quem adota um intervalo maior entre a última refeição de um dia e a primeira refeição no dia seguinte tende a ter menos doenças cardiovasculares. Apesar disso, é preciso ter cuidado ao definir o período do jejum. Segundo a especialista do Einstein, o tempo máximo “recomendado” de jejum entre um dia e outro para evitar riscos à saúde depende de vários fatores, entre eles, o estado de saúde geral do indivíduo e a adequação nutricional durante os períodos de alimentação.
A nutricionista ressalta que o jejum intermitente tem se tornado uma prática dietética popular, com muitos adeptos optando por atrasar e até mesmo pular o café da manhã. “Esse método é frequentemente escolhido como uma forma de controlar a ingestão calórica e melhorar a saúde metabólica. Mas condições preexistentes, como diabetes, doenças cardiovasculares e transtornos alimentares, devem ser levadas em consideração para garantir a segurança e a eficácia dessa prática”, orienta.
“Além disso, pular o café da manhã pode levar à maior ingestão de alimentos mais tarde, muitas vezes em padrões menos estruturados e possivelmente mais calóricos. Esses padrões de alimentação podem contribuir para o ganho de peso e a obesidade, que são fatores de risco conhecidos de doenças cardiovasculares”, frisa del Favero.
O estudo notou que alguns grupos de pessoas tendem a fazer a primeira e a última refeições mais tarde: no geral, foram participantes mais jovens, estudantes ou desempregados, solteiros, sem histórico familiar de doenças cardiovasculares, fumantes e os que contam com rendimentos mensais mais baixos. Além disso, aqueles que faziam refeições mais tarde apresentaram um maior consumo de álcool, com mais episódios de ingestão excessiva. Eles também relataram dormir mais tarde e eram mais propensos a ter uma maior variabilidade nos horários das refeições ao longo da semana.
“O fato de os participantes mais jovens e solteiros tenderem a comer mais tarde não é particularmente surpreendente. Os jovens adultos, em especial estudantes e solteiros, podem ter horários de vida mais flexíveis e menos estruturados, o que leva a horários de refeição mais irregulares e tardios. A associação entre comer tarde e ter um maior consumo de álcool pode refletir um estilo de vida mais social e noturno”, comenta a especialista do Einstein.
A importância da crononutrição
As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no mundo. De acordo com a pesquisa, a dieta é um importante fator de risco e contribui anualmente para 7,94 milhões de mortes relacionadas a essas condições. Os autores dizem que o estilo de vida moderno e o aumento das práticas de jejum que promovem a omissão de refeições têm levado a comportamentos nutricionais inadequados, como comer tarde da noite e pular o café da manhã.
Por isso, cada vez mais os profissionais da saúde alertam sobre a importância da crononutrição. “Esse é um campo da nutrição que explora como o horário das refeições interage com o relógio biológico do corpo (o ritmo circadiano) para afetar a saúde e o metabolismo. Baseia-se na ideia de que não apenas o que você come, mas quando você come, tem impactos significativos na saúde, no bem-estar e na prevenção de doenças”, explica a nutricionista.
O corpo humano opera em ciclos naturais de 24 horas, que regulam processos fisiológicos como sono, metabolismo, secreção de hormônios e muitas outras funções celulares, e a crononutrição enfatiza a alimentação alinhada a esses ritmos para otimizar a saúde.
“Manter uma rotina, se alimentando nos horários corretos e limitando a ingestão de alimentos a certas horas do dia, pode ajudar a melhorar a saúde metabólica e reduzir o risco de doenças crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e obesidade. Na prática, isso vem sendo trabalhado em consultório, conscientizando os pacientes sobre a importância de se manter uma rotina saudável”, finaliza Serena del Favero.
Fonte: Agência Einstein