Por William Lourenço
Hoje, eu resolvi escrever uma Coluna de Opinião completamente fora dessa vala que é a política pra falar sobre um tema que realmente gosto: desenhos animados. Pena que não do jeito que eu gostaria.
O Coiote, personagem conhecido por suas histórias de perseguição ao Papa-Léguas em que ele sempre se dá mal, foi criado em 1949 pelos cartunistas americanos Chuck Jones (1912-2002) e Michael Maltese (1908-1981); e faz parte da turma que compõe os Looney Tunes: a maior, mais importante, mais rentável e mais antiga franquia cinematográfica dos estúdios Warner Bros.
Após centenas de curtas e participações especiais em três filmes (Space Jam: O Jogo do Século, Looney Tunes: De Volta à Ação e Space Jam: Um Novo Legado), o estúdio havia anunciado a produção de um filme próprio para o personagem. E o filme foi feito.
Imagem de divulgação do filme Coyote Vs. Acme, que pode acabar sendo excluído por completo (Foto: Reprodução/ Warner Bros. Pictures) |
Coyote Vs. Acme é baseado em um artigo escrito por Ian Frazer para a revista The New Yorker em 1990, onde o personagem resolve processar a empresa Acme (fornecedora dos produtos que ele usava nos desenhos para tentar capturar o Papa-Léguas). O filme mistura animação com o chamado live-action (ações de pessoas reais) e conta em seu elenco com atores conhecidos, como John Cena (da série Pacificador e filmes do Esquadrão Suicida). O roteiro e produção do filme, que teve orçamento de US$ 70 milhões (cerca de R$ 350 milhões), é de James Gunn: responsável pela trilogia Guardiões da Galáxia.
Do anúncio da produção até aqui, aconteceram algumas coisas: a Warner Bros. fez uma fusão com a Discovery, alterando toda sua chefia. David Zaslav se tornou o CEO da agora Warner Bros. Discovery e James Gunn foi contratado pela nova companhia para ser o chefão da DC Studios (departamento responsável pelos filmes da DC Comics: Superman e Batman, por exemplo, pertencem à DC).
O filme do Coiote estava previsto para ser lançado em julho do ano passado, o que deixou muitos fãs dos Looney Tunes ao redor do mundo empolgados. Inclusive eu. Porém, sem dar muitos detalhes, a Warner mudou o cronograma colocando o filme da Barbie em seu lugar e, em novembro, anunciou que seu lançamento seria cancelado.
O motivo para tal cancelamento seria pura e simples mesquinharia por parte da companhia, que não quer pagar o equivalente a US$ 30 milhões (quase R$ 150 milhões) em impostos ao governo dos Estados Unidos.
Não demorou muito para que os fãs se enfurecessem com a decisão e a Warner reconsiderasse esse cancelamento, chegando a, inclusive, colocar o filme à venda para outros estúdios.
E pasmem: mesmo com ofertas de Netflix, Paramount, Amazon e Sony, os executivos da Warner Bros. Discovery não quiseram fechar negócio e parecem estar decididos a excluir por completo o longa, por causa dos impostos. Detalhe: nenhum destes executivos chegou sequer a assistir o filme.
Artistas envolvidos na produção (figuração, trilha sonora, animação, dentre outras áreas) e fãs que querem pagar ingresso estão tentando, de todas as formas possíveis, reverter o cancelamento mais uma vez. Um deputado americano chegou a enviar ofício para o Departamento de Justiça americano denunciando o caso, e completou dizendo em uma rede social que essa tendência de deletar filmes já prontos é crescente e perturbadora. "É anticompetitivo, antitrabalhista e predatório. Os reguladores deveriam rever o uso desta tática por uma empresa ao avaliar se devem processar para bloquear futuras fusões", completou o congressista texano Joaquin Castro (equivalente a um deputado federal no Brasil).
Se for parar pra pensar, é de fato uma burrice gigantesca tal atitude por diversos fatores.
O primeiro e mais chocante deles: ter gasto tanto em uma super produção para, simplesmente, não lançá-la em lugar nenhum e deletá-la, sem ao menos tentar recuperar o que foi gasto.
Segundo: a descarada tentativa de sonegação fiscal que a Warner Bros. Discovery, chefiada pelo David Zaslav, quer fazer nos Estados Unidos.
Terceiro: a exclusão de um filme já pronto, protagonizado por um personagem que mexe com a memória afetiva de milhões de pessoas, justamente no ano em que ele completa seu 75º aniversário. Fora o desrespeito com os fãs de toda uma franquia que, convenhamos, fez e ainda faz este estúdio ser o que ele é hoje.
E por último: a relutância em disponibilizar um produto que tem demanda, foi elogiado pela crítica e tem tudo para ser um dos filmes mais assistidos do mundo no ano (se vier mesmo a ser lançado, o que muitos já dão como impossível). E isso porque a Warner tem sua própria plataforma de streaming para lançar filmes, a Max.
Óbvio que caso venham a lançar o filme, o estúdio não tem nenhuma garantia de que ele será de fato um grande sucesso de bilheteria: seja nos Estados Unidos ou no mundo todo. Porém não lançá-lo em lugar nenhum (nem mesmo nos canais oficiais da própria Warner no YouTube, por exemplo) é de uma burrice que não me desce. E, pelo jeito, não tá descendo pra mais ninguém.
Isso não é tudo, pessoal.