OPINIÃO: "MODESTO À PARTE", O MANOEL ESCREVEU UM LIVRO ATEMPORAL SOBRE BUÍQUE

 

Livro escrito por Manoel Modesto em 1988 já trazia duras críticas às posturas asquerosas da classe política do município do agreste pernambucano que, 35 anos depois, ainda são reproduzidas pelos novos integrantes desta classe e que nem tão cedo mudarão (Imagem: Reprodução/ Blog Choque Cultural Buíque)



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Por William Lourenço

Diferente de outras Colunas de Opinião que já escrevi para este site, hoje eu venho compartilhar com vocês uma dica literária, assim podemos dizer.
Ao ir à reunião que abriu a Conferência Municipal de Cultura de Buíque nesta segunda, me deparei com uma prateleira onde haviam obras publicadas por escritores daqui deste município. Uma prateleira que, embora bem ocupada, poderia ter ainda mais exemplares (dado o total de potenciais escritores que daqui podem sair).
De cara, um livro de capa vermelha me chamou a atenção para folheá-lo enquanto aguardava a reunião começar na Biblioteca Graciliano Ramos. Esse livro é o Modesto à Parte, escrito por Manoel Modesto em 1988. Nesse ano, o Brasil promulgaria sua atual Constituição, dando de vez um fim à ruptura democrática que havia culminado em um regime militar. Resolvi lê-lo pela primeira vez.
Em seu conjunto de crônicas, o autor faz uma análise crítica (embora modesta, segundo o próprio título da obra) da movimentação política no Brasil, sem deixar de olhar o que vinha fazendo a classe buiquense. E olha, eu acredito que nem ele pensou que, 35 anos depois, algumas coisas escritas sobre este município no agreste pernambucano continuariam tão atuais...
Lembram que aqui foi publicada uma Coluna de Opinião falando da banalização da cidadania buiquense?
Por causa dessa coluna, aliás, teve parlamentar me torrando a paciência sem nem ter lido o texto na íntegra nesse dia, mas deixa pra lá.
No livro de Manoel Modesto, repito, escrito e publicado em 1988, essa banalização (descrita como gratuidade, o que não deixa de ser de todo verdade) já ocorria por parte do Poder Legislativo buiquense a rodo. Destacarei apenas um trecho desse capítulo na coluna, até em respeito aos direitos autorais da obra:
"Querer aparecer através da proposição pura e simples da outorga de um título de cidadão a uma pessoa renomada é cretinice, é pura bajulação e tentativa de promoção pessoal. 
(...) Entretanto, outorgar títulos de cidadania gratuitamente é uma ofensa à comunidade, principalmente quando o agraciado não faz nada em prol dessa comunidade ou nem sequer aparece na mesma para 'tomar umas cachacinhas' ou aparece esporadicamente, como os ditos 'cururus de trovoada', ou seja, aqueles que só aparecem em épocas de eleições"
(MODESTO DE ALBUQUERQUE NETO, Manoel. Modesto à Parte. 1ª edição. Pesqueira: [s.n], 1988. p. 31)
Críticas à mentalidade da população, que hoje já é considerada atrasada por alguns, também foram feitas nesta publicação. E lá em 88, já era considerada muito atrasada. A apatia e o comodismo aos problemas e às pessoas que impedem o crescimento de uma comunidade que atualmente conta com mais de 52 mil habitantes e quase 170 anos de existência (levando em conta a data de sua emancipação política, o que o tornou um município) em todos os seus aspectos tão bem apontados neste livro continuam firmes, fortes e mantidos de forma intencionada pela população, mesmo após 35 anos.
A falta de culhão dos representantes do Poder Legislativo, em sua maioria corrompida e conluiada com o Executivo por razões muitas vezes escusas, em cumprir com seu único e principal papel de fiscalizar as ações e contas municipais com responsabilidade e isenção é outro péssimo vício que, no mínimo, há quase quatro décadas os vereadores têm. Independente da renovação na Câmara. O que só nos faz pensar que Buíque, não importa a década ou século, só é grande em território, pois moralmente seu próprio povo faz por onde se diminuir, se comparado com qualquer outro lugar. E isso é péssimo...
Para você que ficou curioso em saber mais sobre o Modesto á Parte, ele está disponível para empréstimo na Biblioteca Graciliano Ramos, em Buíque. É uma obra que eu recomendo a leitura, até para que se compare as coisas escritas nele com o atual cenário em que vivemos e se faça uma análise mais crítica e de maior repúdio a estes erros, que precisam ser expurgados de vez de nossa vida enquanto membros de uma comunidade.
Se quisermos mesmo que ela se desenvolva.

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William Lourenço

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