OPINIÃO: BUÍQUE, SEM DINHEIRO NEM PRA UM MÍSERO BOLO DE ANIVERSÁRIO

 

Como a população de Buíque, em sua maioria, só se interessa em saber de festividades, aqui virá uma péssima notícia: o aniversário do município do agreste de Pernambuco, que será na próxima sexta-feira, pode passar em branco porque a Prefeitura terá que cumprir o próprio decreto de corte de gastos. A minoria inteligente já sabe que o buraco feito por Arquimedes e sua turma nas contas públicas é bem mais embaixo do que um simples dia de shows que não ocorrerá.

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Por William Lourenço


Na próxima sexta-feira, dia 12 de maio, Buíque completará 169 anos de emancipação política, embora não pareça. A palavra emancipação, em tese, significa libertação, independência. A emancipação política quer dizer que um distrito conseguiu autonomia no âmbito político e social do município ao qual pertencia antes. Por mais que territorialmente, Buíque tenha se tornado um município autônomo em 12 de maio de 1854, administrativamente, os buiquenses têm se comportado como capachos dependentes de certos políticos há muito tempo. E é muito tempo mesmo...

Do padre que começou o maldito atraso do município do agreste de Pernambuco (ao não deixar vir a linha de trem, que ficou em Arcoverde) em 1892 até hoje, foram 33 prefeitos (já contando os quatro interventores que por aqui passaram entre 1930 e 1938). Até 1959, a maioria dos escolhidos, com exceção do Vigário João Inácio, tinha alguma patente da Polícia: era tenente, coronel ou major.

Quem quebrou essa alternância interna de poder que aqui havia foi, justamente, um cara que iniciaria outra alternância lazarenta de poder dentro do município: a da própria família. Jonas Camelo, o primeiro, ficou na Prefeitura de 1959 a 1963. Vinte anos depois, foi a vez de seu filho, Zé Camelo, e 25 anos depois, o Jonas (filho do Zé) foi quem chegou à Prefeitura pra só sair em 2017. Será que daqui até 2040, um dos filhos de Jonas se candidata a prefeito?

Blésman Modesto sucedeu o primeiro Jonas Camelo em 1967 e antecedeu o filho dele, de 1977 a 1982. E olha que ele já tentou voltar a ser prefeito outras vezes...

Em 83, era apresentado ao município aquele que se tornaria o mais emblemático e problemático prefeito da história recente buiquense: Arquimedes Valença. Quem só tem como memória recente os embates entre ele e Jonas Camelo Neto, mal sabe que ele já foi vice e grande amigo do pai dele. Após conquistar sua primeira vitória em 1989 e ter saído em 1992, ele voltou ao poder em 2001 e ficou até 2008; sendo justamente sucedido por Jonas Camelo Neto, que ficou até 2017, quando Arquimedes retornou e está como prefeito até hoje.

É emblemático pelo fato de ter conseguido ser eleito cinco vezes, e problemático pelo modo como passou a gerir o município, sempre gastando mais dinheiro público do que o município realmente arrecada e até respondendo na justiça por isso.

Dado um pouco do contexto histórico (que aqui é geralmente trazido pelo meu amigo historiador e colunista João Gabriel Silva), vamos aos fatos atuais sobre Buíque.

Uma das artimanhas feitas por Arquimedes em seus mandatos para desviar o foco da população dos reais e graves problemas administrativos de Buíque sempre foi, com dinheiro dos cofres municipais, pagar festas com artistas de cachês caríssimos. O aniversário de Buíque é uma dessas datas, depois do dia 29 de junho (Festa de São Pedro).

Só que a irresponsabilidade da gestão municipal com despesas altas de pessoal, aumento de salário de secretários e até com desvio de dinheiro público nas secretarias (a Operação Anules que o diga) foi tamanha que nem o troco pra festa sobrou e foi o jeito, mas foi o jeito mesmo (senão a Polícia viria pra cá de novo), não fazer a festa de aniversário neste ano. O que posso dizer é que entre não fazer a festa e querer fazer de qualquer jeito, foi inteligente a primeira opção. Até porque quando escolheram a segunda opção no ano passado, bons ventos não sopraram pros festeiros daquele dia...

A Associação Comercial do município, sabendo disso, resolveu pedir ao prefeito que não decretasse feriado municipal na próxima sexta, para que o comércio pudesse abrir normalmente e obtivesse algum lucro com as vendas do Dia das Mães. O prefeito que mais dá feriados e pontos facultativos para os servidores públicos não irem trabalhar: nem mesmo ele.

Uma vez foi dito, inclusive foi aqui, que você pode fazer a barbaridade que for como gestor público. Só não pode deixar seus puxa-sacos sem pão e circo. Se Arquimedes tivesse lido essa coluna em vez do que os seus blogueiros escrevem (e ainda de forma errada), nada disso teria acontecido. Ou teria, já que ele faz isso de forma dolosa...

É fato que Buíque veio de uma condição financeira destroçada. Culpa de Jonas Camelo e de seus secretários enquanto estiveram no Executivo municipal. Que já haviam pegado um buraco quando Arquimedes os entregou a Prefeitura. E que, ao receber de volta de Jonas, resolveu, como um tatu, alargar o buraco que havia nas contas públicas. É redundante falar sobre as multas que o Tribunal de Contas do Estado aplicou a este incompetente (pesquise depois aqui no site: o que não vai faltar é matéria falando sobre isso). Nos últimos 20 anos, somente duas pessoas ocuparam a cadeira de Prefeito em Buíque. Isso, em lugar nenhum, é um bom sinal. Ambos fingem rivalidade e até inimizade pública, mas na primeira oportunidade que tiverem, sentam-se lado a lado e se abraçam como grandes amigos de infância. E o povo, como sempre, que compra essa briga inventada, mata e morre por eles, que só assistem e riem de suas caras.

Os vereadores que, em sua maioria, deveriam fiscalizar e até coibir os maus atos do prefeito (porque a lei dá a eles competência para isto), se venderam a ele. Não dá pra tirar outra conclusão. A prestação de contas de Jonas de 2016, que havia sido rejeitada pelo TCE, foi aprovada por eles em 2021. Sob qual pretexto? As prestações de contas de Arquimedes de 2017 pra cá, todas com ressalvas. E o que os vereadores têm feito para que a Prefeitura corrigisse essas ressalvas? Foram os vereadores também, em julho do ano passado, que aprovaram o aumento em mais de 60% dos salários dos secretários municipais. Os mesmos que, em outubro de 2021, só compareceram presencialmente a uma sessão da Câmara, mas receberam integralmente o salário mensal de R$ 10.100,00 (o Presidente da Câmara tem um adicional de R$ 2.020,00 em sua remuneração). Um dos vereadores, não podemos esquecer, fez questão de debochar dos professores municipais em pleno Plenário ao aprovar, junto com seus colegas de casa, um corte nas gratificações destes servidores. Nem vou falar das dezenas de títulos de cidadania buiquense concedidos a quem apoia o atual prefeito, unicamente para satisfazer seus próprios egos... Até quem já foi processado por desviar dinheiro da própria Câmara ganhou dela tal honraria...

Fundo de Previdência com um rombo atuarial de mais de R$ 300 milhões (isso segundo o Relatório de Auditoria do TCE sobre o ano de 2020: o rombo pode estar ainda maior agora), despesas sempre maiores que as arrecadações anuais por seis anos consecutivos (receitas estas que, desde 2019, ultrapassam os R$ 100 milhões)... O decreto que Arquimedes foi obrigado a assinar em janeiro deste ano (unicamente por culpa dele) só escancarou ainda mais a destruição feita nas finanças de Buíque. E seus 13 secretários municipais, ao que parece, viram isso como uma folha de papel em branco, pois não fizeram nem questão de cumprir com o que ali estava escrito...

Num passado não tão distante, ainda se havia a desculpa de mostrar um buraco na rua sendo tapado como grande obra (isso independente do prefeito). Hoje, nem isso, por que não tem dinheiro. Não por falta de repasses, e você sabe disso: já mostramos à exaustão, o Tribunal de Contas do Estado já mostrou à exaustão. É por falta de gestão e de caráter. Ano que vem terá eleição municipal. Será que os buiquenses, de forma deliberada e despudorada, elegerão aqueles que sempre estiveram atrelados aos impudicos? Ou tomarão, enfim, vergonha na cara e deixarão de se importar tanto com cachaça e som alto pra escolher alguém que faça algo verdadeiramente benéfico pelo município?

Só optando pela segunda alternativa, é que a população de Buíque poderá celebrar sua própria emancipação desses políticos. Até lá, o jeito é fingir que há o que comemorar: sem dinheiro nem pra um mísero bolo de aniversário.

William Lourenço

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