Por William Lourenço
Segundo a nota da pasta, "O relatório apresenta observações, conclusões e sugestões relacionadas, especificamente, ao sistema eletrônico de votação, conforme as atribuições definidas pelo Tribunal às entidades fiscalizadoras" e que "O Ministério da Defesa e as Forças Armadas reforçam o compromisso com o Povo brasileiro, com a democracia, com a defesa da Pátria e com a garantia dos Poderes Constitucionais, da lei e da ordem".
O TSE, em nome de seu presidente, o Ministro Alexandre de Moraes, também emitiu uma nota dizendo que recebeu o relatório com satisfação, "que, assim como todas as demais entidades fiscalizadoras, não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022" e que as sugestões encaminhadas para o aperfeiçoamento do sistema serão oportunamente analisadas. Ainda na nota, o Ministro reforçou a lisura, eficiência e total transparência da apuração e totalização de votos por meio da urna eletrônica, utilizada no Brasil desde 1996.
Não é errado pedir cada vez mais transparência em um processo tão complexo e tão importante como esse. Quanto mais pessoas saberem do que se trata e sugerirem como isso pode ser melhorado, ótimo. O problema sempre foi o timing, quem provocou tal indagação e o porquê.
Desde o ano passado, o presidente Jair Bolsonaro, infelizmente, quis causar tumulto ao questionar o sistema eleitoral brasileiro, quase que no mesmo modelo adotado por Donald Trump nos Estados Unidos antes, durante e depois das eleições presidenciais de 2020. O sistema eleitoral de lá tem mais de 200 anos de funcionamento, sendo referência para outros países democráticos ao redor do mundo. As falsas denúncias de fraude na contagem dos votos (que são impressos por lá e podem até ser enviados pelo Correio) e a não aceitação da derrota para Joe Biden culminaram na invasão do Capitólio (o Congresso dos Estados Unidos) em 06 de janeiro de 2021. Cinco pessoas morreram na ocasião e Trump foi formalmente responsabilizado numa CPI aberta pelos deputados e senadores americanos, tendo sido até intimado a prestar depoimento.
Já visando uma derrota para o petista Lula, que vinha se livrando das acusações e processos na Justiça por sua idade avançada, Bolsonaro até tentou seguir fielmente a tática do ex-presidente americano. O problema é que enquanto a ficha de seu adversário vinha sendo limpa, repito, por sua idade já avançada (qualquer processo para quem tem mais de 70 anos, segundo nossa legislação, simplesmente prescreve); a sua vinha cada vez mais se sujando: a pandemia de COVID e o modo como ela foi tratada impactou negativamente pra sua imagem. E essas bravatas contra as urnas também o atrapalharam. Ao envolver as Forças Armadas em um devaneio de golpe de estado para seus apoiadores mais loucos no caso de uma derrota, Bolsonaro quase cagou com a imagem de uma instituição tão importante pra manutenção do nosso Estado Democrático de Direito. Imagem esta que ficou maculada por causa do regime militar. E eles, os comandantes das três forças, também viram que tal associação poderia ser prejudicial a eles.
A demora na entrega deste relatório (que, obviamente, não é uma coisa que se pode fazer de um dia para outro) por parte das Forças Armadas, somado ao silêncio que Bolsonaro fez após o anúncio da vitória de seu inimigo, gerou naqueles com neurônios a menos uma pane geral: bloqueios de estradas, choramingos em frente aos Comandos Militares de todas as regiões pedindo intervenção, maluco se pendurando em caminhão... Até argentino se meteu na confusão!
Aí, quando tudo foi se desenrolando, com Bolsonaro pedindo o desbloqueio das rodovias e, agora, com as Forças Armadas não apontando nenhuma fraude nesta eleição, estes mesmos apoiadores (ao menos, a maioria) se desiludiram por aqueles que puxaram veementemente o saco não terem dado a resposta que eles queriam ouvir. E tem quem, nessa turma, já esteja contra as Forças Armadas. Patriota pra caramba, hein?
Agora, se eu puder dar um recado aos nobres cidadãos que ainda se encontram nas ruas deste país, tomando sol e chuva à toa, sendo atropelados nas estradas à toa e virando motivo de chacota do restante do país à toa, eu diria o seguinte: vocês estão dispensados.
E, como o título desta Coluna já entregou, completaria o diálogo assim: direita, volver... e voltar pra casa! Acabou, porra! Guardem suas forças, armadas ou não, para depois do dia primeiro de janeiro. Vocês vão precisar...