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Debate promovido pela TV Globo entre Jair Bolsonaro e Lula nesta sexta-feira só prova que o eleitorado brasileiro ainda vai sofrer muito até aprender a parar de dar voz, palanque e voto a políticos polarizadores, de passados igualmente polutos, por esmolas (Reprodução/ Portal G1) |
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Por William Lourenço
O último debate presidencial na TV Globo, na noite desta sexta-feira, foi o mais deprimente e nojento que assisti desde que comecei a acompanhar debates com certo afinco, e olha que comecei com os de 2014, onde a baixaria comia solta.
Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT), dois dos maiores irresponsáveis que já sentaram na cadeira de Presidente da República, se encontraram pela última vez antes do domingo, dia da votação, para mais se acusarem e mentirem descaradamente aos milhões que assistiram. Foi um momento doentio, do ódio contra o ódio. O "vamos todos dar a bunda" contra o "vamos todos ter uma arma" nunca ficou tão evidente quanto nesta noite.
O petista, que poderia ter se sobressaído mais em relação ao seu adversário com seu próprio tempo (se o tivesse administrado melhor), mais pediu direito de resposta, gaguejou e gritou em direção à câmera. Bastava ser chamado de mentiroso por Bolsonaro, o dedo levantava (sinal de que queria direito de resposta). Somente em um bloco do debate, foram sete pedidos. Eu fiquei com raiva de ver. E mais raiva de lembrar que mais de 57 milhões de pessoas depositaram seu voto no primeiro turno em um cara que se mostrou lá estar descontrolado. Se esquivou de perguntas sobre seu plano de governo, voltou a recorrer à falsa memória afetiva do povo quando ele ficou no poder entre 2003 e 2010, e sobrou crítica até pros microempreendedores individuais, os MEIs. Por mais que alguns números econômicos tenham sido de fato positivos ao país, garantindo-o entre as 20 maiores economias do mundo, os escândalos de corrupção (Mensalão e afins) também causaram um baque econômico nunca antes visto na nossa história (e estamos nesse buraco até hoje). As forçosas manobras perante o Tribunal Superior Eleitoral para apagar a parte mais suja de seu passado da mídia, para que ela não fosse usada contra ele nesta campanha, mais deixam os poucos que ainda pensam com raiva dele. Tem uma matéria da Agência AFP (que eu recomendo a leitura) sobre o porquê é incorreto, com a devida jurisprudência, dizer que ele é inocente (principalmente porque ele já foi preso devido a estas acusações, em 2018):
Bolsonaro procurou não dar seus famosos lampejos de ira, embora provocado. Até buscou se referir a dados de sua gestão, mas os poucos que não adotaram político de estimação e veem tudo isso com um pouco de crítica e imparcialidade verdadeira sabem que ele é um Lula da direita mais extrema que se poderia tirar, assim como o petista é um Bolsonaro da esquerda mais extrema e podre já produzida no Brasil, e se traveste de diplomata.
As blindagens a seus filhos em investigações policiais, os escabrosos atos a favor da COVID-19 matar geral no país, o Queiroz com o Adriano da Nóbrega e sua turma, a "boiada passando" na questão ambiental, os 51 imóveis com dinheiro vivo são só alguns dos escândalos que assistimos em quase quatro anos. Fora a humilhação da classe jornalística, das mulheres, das minorias... E mesmo assim, 51 milhões de pessoas depositaram seu voto nele no dia 2.
No
Editorial publicado neste site em 30 de setembro, trouxemos, com o máximo de fatos possível, os motivos para que estes que hoje estão no segundo turno deveriam ter sido eliminados da disputa. E em um trecho deste texto, foi escrito o seguinte:
"Quem apoiava um destes dois bandidos sem conhecer as atrocidades cometidas por eles, até poderia ser chamado de ingênuo, no máximo ignorante. Quem os apoia agora, com tudo que já sabemos de ambos, não pode ser considerado nada menos que cúmplice destes crimes e tão bandido quanto eles. Os dois são, no fundo e em sua essência, a mesma coisa. E seus ferrenhos puxa-sacos também.
Neste domingo começa o dia mais difícil da nossa democracia, porque teremos a oportunidade e a obrigação moral de tirar dois tumores malignos da política brasileira. Não há mais solução fácil: ou fazemos isso pra nossa democracia ter uma sobrevida, ou ela morrerá de vez".
Reescrevo as palavras de quase um mês atrás, dizendo o seguinte desta vez:
"Neste domingo começa o dia mais difícil da nossa democracia, pois os brasileiros, em vez de eliminar os causadores do câncer que vem adoecendo nossa sociedade, preferiram escolher o seu tumor maligno preferido e matar a todos nós. Não há mais solução: a sobrevida que nossa democracia teria foi jogada no lixo. Preparem-se para se despedirem da nossa democracia a partir de primeiro de janeiro de 2023. Independente de quem assuma a Presidência, o mal que faz parte da maioria da nossa população vencerá. A imoralidade, a indecência, a covardia e a impunidade vencerão. Se fôssemos mesmo um povo decente e honesto, jamais cogitaríamos, nem teríamos, dois indivíduos polutos como estes disputando o cargo mais importante da República. Vocês fazem por merecer toda a desgraça que o país atravessa há séculos, e que atravessará por mais alguns séculos ainda"