Esta Coluna de Opinião é trazida a você pelo livro "Se Você Ficou Até Aqui...- As Melhores Colunas de Opinião do Podcast Cafezinho": adquira já o seu exemplar clicando aqui
AVISO IMPORTANTE: o episódio inédito da Temporada 2022 do Podcast Cafezinho no streaming, YouTube e Rumble vai ao ar amanhã, porém em horário excepcional: às 9 da noite, horário de Brasília.
Por William Lourenço
Em mais uma sessão, para variar, fechada ao público da Câmara de Vereadores de Buíque, município do agreste de Pernambuco, foram concedidos dois títulos de Cidadão Buiquense. A quem não sabe, essa cidadania honorária é um título de honraria que uma pessoa de importância recebe de alguma localidade. O título de cidadão equipara a pessoa homenageada a uma adoção oficial. A pessoa agraciada passa a ser um irmão, um conterrâneo, uma pessoa da terra natal. Mesmo que um homenageado não tenha nascido ou não resida na localidade, para que se lhe conceda tal homenagem, faz-se necessário que se diga o que ele (homenageado) fez, sem visar lucros, interesses pessoais ou profissionais, em defesa do povo da localidade que lhe concedeu tal cidadania.
Num município, os vereadores podem fazer proposições para dar estes títulos a pessoas que, segundo seus critérios, contribuíram de alguma forma para o bem-estar e o desenvolvimento daquele local a longo prazo. É o oposto de Persona non Grata, título dado a quem não é aceito ou bem-vindo naquela localidade.
Na última quarta-feira, os homenageados foram o advogado Pedro Melchior e a vereadora Clara Brito (PSD). Agora, apontarei os motivos para eu achar tais títulos impróprios.
Pedro é servidor municipal desde 2017, trabalhando como consultor jurídico. Pelo tanto de problemas que o atual prefeito já tinha pego e outros que arrumou, até imagino que ele tenha mesmo muito trabalho. A imoralidade, a meu ver, está no fato de que somente por ser funcionário da Prefeitura, nas palavras da propositora de seu título de cidadania, Clara Brito, ele cumpre com todos os requisitos para receber este título.
E o que torna essa sessão ainda mais imprópria é que justamente quem propôs esse título ao advogado também foi homenageada, sob o pretexto de ter feito grandes contribuições ao município. Tudo bem que ela é filha de um conhecido fazendeiro da região, e que vem se dispondo a fazer um bom mandato, mas são só dois anos como vereadora: ainda é pouquíssimo tempo para esse tipo de reconhecimento. Mais parece autopromoção aceitar tal homenagem misturada com corporativismo ao cedê-la a um funcionário direto de Arquimedes Valença.
Só pra vocês terem ideia de como se tornou banal essa coisa do Cidadão Buiquense, a impressão que passa é que se os vereadores forem com a sua cara ou se você for do mesmo círculo político deles, já ganhou um título de cidadania. De dezembro do ano passado até a última quarta, a Câmara de Vereadores cedeu, pelo que se tem conhecimento, 15 títulos de Cidadão Buiquense. Uma dessas pessoas homenageadas em março, pasmem, foi a ex-secretária municipal de Saúde Janice Rodrigues: exonerada do cargo no fim de abril após a deflagração da Operação Anules, que investiga um esquema de peculato e corrupção dentro do Fundo Municipal de Saúde, do qual ela era também a presidente.
Somente numa sessão em dezembro do ano passado, os vereadores buiquenses concederam esses títulos a nove pessoas de uma só vez: dentre eles a atual secretária de Educação, Marilan Belizário, e o comerciante conhecido como Fernando Agente, pai do vice-prefeito Túlio Monteiro.
Então, fica o questionamento: qual o critério pra ser Cidadão ou Cidadã Buiquense? Ser amigo dos vereadores já é condição pra tamanha puxação de saco? E se eles realmente deram contribuições significativas aos moradores de Buíque, porque a sessão não foi aberta ou mais divulgada ao público? Até isso conseguiram estragar...
O lado bom é que você, que está lendo esse texto, pode vir a ser um ilustre Cidadão ou Cidadã Buiquense no futuro: basta virar vereador, pra se dar esse título ou recebê-lo, ou mesmo muito amigo do prefeito e dos seus aliados.
ADENDO: cumprindo com aquilo que cremos ser o bom jornalismo, após a publicação desta Coluna de Opinião, a vereadora Clara Brito (PSD) nos enviou uma manifestação a respeito do que foi aqui pontuado. Abaixo a manifestação:
"1- A sessão foi e é aberta ao público, e estava cheia de ACS , que tem um projeto para ser passado; 2- eu resido há 32 anos aqui no barro preto e se você pesquisar sobre o meu passado , deixando meus pais de lado. Ex: minha mãe formou 18 turmas de pedagogia aqui no município 3- sempre prestei serviços aqui na comunidade socorrendo pessoas, animais, e fazendo ações sociais com doações 4- este projeto já está lá na casa desde o ano anterior porque eu não aceitei receber do próprio Rodrigo; 5- o Dr Pedro Melchior também mora aqui no Barro Preto com seus pais e ajuda várias pessoas, é meu primo. Infelizmente está trabalhando para seu Arquimedes, o que não diminui sua honra como morador, prestador de serviço. É casado com uma Buiquense, professora, trabalha há 22 anos. Ambos fazem um trabalho silencioso e muito importante aqui no Barro Preto. Então, assim, é importante saber como falamos dos outros e também buscar passar informações verídicas e fundamentadas. Concordo que deve existir critérios, por tanto como eu, ano passado, dei apenas ao Padre BENEVALDO, que foi pároco em Buíque, e continua ajudando ainda hoje. No ato não aceitei receber, mais este primo tem há muitos anos serviço aqui , por acaso está trabalhando para o atual prefeito . Então o fiz e farei sempre com muita responsabilidade, porque sei o significado das coisas! Desde já agradeço!"
A Coluna de Opinião, vale sempre ressaltar, questionou tão somente os critérios pessoais adotados para as escolhas dos homenageados como Cidadãos Buiquenses, uma vez que isto deve ser sempre de conhecimento público.
Na tarde deste sábado, nos foi enviado mais um esclarecimento sobre os títulos de Cidadão Buiquense entregues na última quarta por um advogado que representa alguns vereadores da Câmara: uma conselheira tutelar, de nome Kiara, também foi homenageada, porém este título não teve o mesmo enfoque da imprensa local como o dos dois citados acima na Coluna. Neste mesmo esclarecimento que nos foi enviado por mensagem direta no Instagram, também foi explicado que os critérios para escolha destes cidadãos são definidos por lei, a ser aprovada em cada município por seus respectivos vereadores. Esta parte, reforçada na manifestação, já tinha sido citada nesta Coluna. E que futuras alterações só podem ser feitas com a aprovação da maioria dos membros da casa.
O representante ainda nos informou que a Câmara de Vereadores de Buíque agora tem um canal oficial no YouTube, onde aqueles que não puderem ir presencialmente às sessões poderá assisti-las ao vivo. Você pode se inscrever no canal clicando aqui ou ainda acessando o seguinte link em seu navegador da web: