EDITORIAL: A RESSACA PÓS ELEIÇÃO

 

A disputa presidencial mais pesada, polarizada e baixa de todos os tempos enfim acabou, com uma vitória apertada, porém válida de Lula. No entanto, ainda nos restam mais dois meses de Jair Bolsonaro como Presidente desta República. O que esperar?

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As Eleições 2022, enfim, acabaram. Ao menos, a votação para escolha dos novos representantes das casas legislativas dos 26 estados e Distrito Federal, além dos governadores e do Presidente da República.

Pernambuco decidiu por remover o PSB, partido de Paulo Câmara, após 16 anos no comando do estado e elegeu RaqueLyra (PSDB), que passa a ser a primeira mulher eleita da história a ocupar o Palácio do Campo das Princesas a partir do ano que vem. Seu principal desafio será o de avançar com suas propostas numa Alepe onde, pelo menos, 1/4 dos deputados estaduais eleitos (os do PSB) poderá vir a ser oposição a seu governo.

Enquanto o PSDB entra em Pernambuco e em Mato Grosso do Sul (com Eduardo Riedel), o partido se mantém no Rio Grande do Sul com a inédita reeleição de Eduardo Leite e sai de São Paulo (estado mais rico e mais populoso do país) após 28 anos, com a eleição de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos). O ex-ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro conseguiu vencer, com uma vantagem confortável, o ex-prefeito da capital paulista Fernando Haddad (PT).

Os resultados dos 26 estados e Distrito Federal para governador mostram a seguinte divisão entre partidos: o União Brasil conseguiu quatro estados no Norte e Centro-Oeste (Amazonas, Rondônia, Mato Grosso e Goiás), o PT pegou 4 estados, todos no Nordeste (Piauí, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte); o PSB fica com três (Paraíba, Maranhão e Espírito Santo); o PSDB, três também (Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul); o MDB, outros dois (Alagoas e Pará) e o Distrito Federal; o PP chega aos governos de Roraima e do Acre, o Republicanos conseguiu o governo de São Paulo e Tocantins; e a divisão segue com o PL em Santa Catarina e no Rio de Janeiro, PSD no Paraná e Sergipe, o Novo se mantendo em Minas Gerais e o Solidariedade no Amapá.

Já na disputa presidencial, como já havíamos divulgado em nosso site ontem, o ex-presidente Lula (PT) venceu o atual Jair Bolsonaro (PL) com uma vantagem de pouco mais de 1 milhão de votos. Esta foi a mais polarizada, violenta, baixa e acirrada eleição desde a redemocratização do país, isso nos anos 80. Até porque, devemos levar em conta que ambos têm suas próprias bases, mas também são amplamente rejeitados pela população, seja por diversos escândalos de corrupção em seus dois mandatos (caso do vencedor) ou pelos diversos escândalos de corrupção mais a instabilidade política causada durante seu mandato, sobretudo no trato à pandemia de COVID-19 (caso do derrotado).

Além do trato com governadores de diferentes partidos políticos e pensamentos políticos distintos, o novo (velho) Presidente ainda terá o desafio de um Congresso Nacional mais hostil a ele. Embora seja da base chamada Centrão e que já o apoiou em mandatos passados, o PL (partido ao qual Bolsonaro se filiou para concorrer à Presidência nesse ano) conseguiu eleger 99 deputados federais e 14 senadores, a maioria deles mais alinhada com o pensamento bolsonarista (de oposição ferrenha ao PT e a tudo que o partido defende e representa). Essa trava, após uma eventual posse de Lula, já pode ser vista por ele como um problema.

Não é segredo pra ninguém que, neste veículo de imprensa, sempre nos mostramos ser contra o contorno político que estava sendo desenhado no Brasil, pois acreditamos que tanto um quanto outro indo a um segundo turno, ou mesmo vencendo a disputa, não significaria o fim da instabilidade moral, econômica, política e social ao qual passamos há quase uma década. É certo que, no segundo turno, defendemos posturas diferentes (o historiador João Gabriel Silva declarou apoio ao petista, enquanto o jornalista William Lourenço declarou voto nulo), mas agora que o resultado já está definido, só nos resta voltar ao nosso trabalho e cobrar dos próximos mandatários deste país as melhorias que nos foram impedidas durante estes quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro.

Fora um Congresso Nacional contrário, Lula terá de convencer mais de 58 milhões de eleitores que votaram diretamente em Bolsonaro, mais 3,9 milhões de pessoas que votaram nulo, outros 1,7 milhão que votaram em branco e ainda os mais de 32 milhões que sequer foram votar, mesmo sendo obrigatório (em protesto, por justamente não se sentirem devidamente representados por nenhum destes dois candidatos) de que não irá errar nos próximos quatro anos. A oposição a ele e ao PT será bem maior e mais incisiva do que quando conseguiu ir pro Planalto pela primeira vez, há 20 anos atrás.

Seria muita burrice nossa desejar que o comandante afundasse a embarcação, sendo que nós estamos dentro dela. Porém, enquanto cidadãos brasileiros, desejamos sim que tanto ele quanto seu vice, Geraldo Alckmin, tenham boa sorte a partir de primeiro de janeiro para conduzir o Brasil para um horizonte mais otimista. Porque, se isso não acontecer, o barco até pode afundar, mas o povo vai querer fazer um motim contra ele.


Assinado por

William Lourenço, jornalista registrado sob o número 0007279/PE

João Gabriel Silva, jornalista registrado sob o número 0007293/PE

Criadores e administradores do Podcast Cafezinho com William Lourenço

William Lourenço

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