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| Um dos dois dessalinizadores que deveria vir para o Assentamento Dois Irmãos, na zona rural de Buíque, município do agreste pernambucano, e que foi prometido pela própria administração municipal em solenidade no mês passado, vai ser instalado na comunidade quilombola do Mundo Novo (Divulgação/ Redes Sociais) |
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Por William Lourenço
Desde que vim morar em Buíque, município do agreste de Pernambuco, há 17 anos atrás, que a falta de água nas comunidades rurais é um desafio. Os longos deslocamentos a pé ou de carroça para buscar água potável, muitas vezes paga, são imagens que me acompanharam durante toda minha infância e adolescência.
Campanhas eleitorais passaram, com centenas de políticos prometendo uma solução para este problema, mas ficou somente na promessa mesmo. Gestores municipais alternaram o poder entre si, e pessoas continuaram sem ver uma gota de água potável em suas casas. Se não fossem as chuvas que encheram seus baldes e cisternas de vez em quando no ano, essas pessoas, com certeza, morreriam de sede.
Em 2012, foi cavado o primeiro poço artesiano no Assentamento Dois Irmãos, localidade a 6 km do Distrito do Carneiro e onde eu resido. Ali surgiu uma esperança de que, finalmente, teríamos água limpa para beber e utilizar para a criação de animais e até mesmo na agricultura. Descobriu-se que precisaria de um aparelho chamado dessalinizador, pois a água era salgada demais até para o consumo animal.
Um dessalinizador havia sido destinado pelo Governo do Estado, por meio do programa ProRural, para que fosse instalado na comunidade rural tutelada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). A Prefeitura de Buíque, no entanto, nunca deu satisfação sobre este aparelho aos moradores do assentamento. São mais de 70 famílias que vivem no local, de acordo com a Relação de Beneficiários cadastrados no Programa de Reforma Agrária do INCRA.
Passada quase uma década, outro poço foi escavado (este próximo à Escola Municipal João Bezerra de Brito) e, quem diria, a administração municipal foi forçada a se mexer.
Tanto como morador quanto como jornalista, passei a acompanhar mais de perto a situação do abastecimento no Dois Irmãos. E a prestar atenção em tudo que foi prometido por aqueles que dizem "trabalhar" pelo povo. Um mal que assumo ter é o de só prometer algo quando sei que posso cumprir, e de cobrar quem me promete qualquer coisa. Promessa é dívida, já dizia o ditado.
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| Publicação feita nas redes sociais oficiais da Prefeitura de Buíque, que reitera a promessa de que mais de um dessalinizador seria instalado no Assentamento Dois Irmãos (Reprodução/Internet) |
A promessa feita pela administração municipal, chefiada por Arquimedes Valença (MDB), desde o início de julho deste ano, quando uma equipe do SISAR Moxotó visitou e vistoriou os dois poços perfurados no assentamento, e reiterada publicamente por Aldir Régis, Secretário Municipal de Agricultura, em uma solenidade realizada no dia 16 de agosto com representantes do município e do Governo do Estado, foi a de que dois dessalinizadores seriam instalados na localidade. Há, inclusive, uma nota publicada no site oficial da Prefeitura reforçando que são dois dessalinizadores a serem instalados no assentamento. Nesta semana, funcionários da Prefeitura vieram para acelerar as obras no poço próximo à Escola Municipal João Bezerra de Brito que já estavam atrasadas, levando em conta que o próprio Secretário de Agricultura havia dito que elas começariam no dia primeiro de setembro. Ainda falta a instalação da parte elétrica, bem como a do próprio aparelho dessalinizador.
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| Imagem do dessalinizador construído próximo ao poço da Escola Municipal João Bezerra de Brito, no Assentamento Dois Irmãos, zona rural de Buíque-PE (Foto exclusiva do site do Podcast Cafezinho) |
Só que na última sexta-feira, chegou a informação, por fonte segura e confiável, de que um desses dessalinizadores, que viria para o Dois Irmãos, será instalado em outra comunidade: a do Mundo Novo, conforme a própria Secretaria de Agricultura informou em suas redes sociais (primeira imagem acima). O problema não é instalar o dessalinizador nesta comunidade, até porque quanto mais pessoas puderem ter água, melhor; mas tirar algo que, por direito e ofício, estava destinado a um local e simplesmente "desviar" para outro sem qualquer justificativa ou satisfação pública. Em certos casos, pode até configurar crime. E, novamente, caímos na vala da falta de transparência por parte da Prefeitura. O que pensar destas pessoas com estas atitudes?
As instalações destes dessalinizadores fazem parte de uma ação de obras de saneamento que ocorre em todo o estado de Pernambuco por meio do Sistema Integrado de Saneamento Rural (SISAR), instituído em abril do ano passado pelo governador Paulo Câmara (PSB). O SISAR prevê que as comunidades rurais pernambucanas recebam políticas públicas de saneamento básico, como água encanada e tratamento de esgoto, e é vinculado à Secretaria Estadual de Infraestrutura e Recursos Hídricos. Somente em Buíque, o SISAR Moxotó (departamento do órgão que abrange os municípios desta região) vai investir mais de R$ 3 milhões em obras de abastecimento nas comunidades rurais e em alguns distritos, como os do Carneiro e Barro Preto. Existe a previsão de que todas estas obras sejam devidamente entregues até o primeiro trimestre do ano que vem.
Fato é que, até o momento em que esta reportagem foi produzida, a Prefeitura de Buíque ou sua Secretaria de Agricultura não explicaram o porquê de, quase que de uma hora para outra, terem mudado um dessalinizador que foi destinado especificamente a uma comunidade, que consta em documentos oficiais do próprio SISAR como sendo do Assentamento Dois Irmãos, tendo recebido vistoria de representantes do órgão (incluindo a vinda de um deputado estadual), para outra comunidade. Por estes motivos, só posso concluir que a Prefeitura descumpriu a promessa feita, vale lembrar, em solenidade pública registrada, inclusive, com uma matéria neste site; "desviando", entre aspas, algo que teria que vir por direito ao Assentamento Dois Irmãos, sem qualquer justificativa ou explicação pública. Se não pode ou não vai cumprir com uma palavra dada, é mais honroso não dá-la.
Abaixo, reportagem veiculada em nosso canal oficial no YouTube sobre o assunto: