OPINIÃO: O VOTO (IN)ÚTIL

 

Apoiadores de Lula e Jair Bolsonaro resolveram se unir em prol de um novo propósito: desconsiderar todos aqueles que irão votar em outros candidatos, dizendo que somente os seus políticos de estimação são as opções viáveis e "democraticamente" corretas para a Presidência da República (Reprodução/Internet)

Esta Coluna de Opinião é trazida a você pelo livro "Se Você Ficou Até Aqui...- As Melhores Colunas de Opinião do Podcast Cafezinho": adquira já o seu exemplar clicando aqui


Por William Lourenço


Estamos a pouco mais de dez dias da enfadonha obrigação de ir votar no próximo Presidente do Brasil (eu queria estar mais otimista com essa eleição, mas não consigo mentir).

O que eu percebo é que cada vez mais pessoas vêm tendo a mesma percepção que eu, ainda que perfis verificados de Twitter e institutos de pesquisa insistam em negar: tanto Lula (PT) quanto Jair Bolsonaro (PL) são a mesma coisa, e o esforço pra sair de casa no dia 2 de outubro não vale a pena. Ou, e aqui dá pra ser menos pessimista, qualquer outro nome parece ser mais agradável pra votar.

Por esse motivo, agora tanto a turma do "vamos todos dar a bunda" quanto a do "vamos todos ter uma arma" (porque classificá-los como direita e esquerda é uma grotesca mentira) se uniram na campanha do chamado voto útil. E o que seria esse voto útil?

Na cabeça destes idiotas (e me desculpem, mas não há outro termo a ser usado para quem pensa assim em prol de qualquer político), o voto útil é aquele que será dado unicamente, e exclusivamente, a seu candidato de estimação, seja do lado vermelho ou do lado escondido atrás da bandeira nacional. Pra eles, quem não votar no chefe da sua própria turma (ou quadrilha, fica a seu critério) estará agindo contra a democracia. Engraçado, porque a democracia implica em, justamente, eu poder votar em quem quiser e não em quem tentam me obrigar. Até por isso que eu considero o voto obrigatório antidemocrático e contraditório, embora determinado pela Constituição. Ah, outra coisa que está dentro da democracia é a chamada alternância de poder: se o povo não gostou do seu líder, o povo pode e deve tirá-lo pelo voto. Ou nem colocá-lo no poder. Ainda mais um cara que já foi Presidente duas vezes, e o outro, que já teve um mandato e deixou muita coisa a desejar.

Em comum, os dois têm: diversas denúncias e até processos na justiça por esquemas de corrupção que ocorreram em ministérios, descumprimento de promessas de campanha (combate à corrupção propriamente dita, por exemplo) e a tacanha mentalidade de jogar os brasileiros uns contra os outros, enquanto ficam vendo o pau comendo de seus apartamentos ou ao longe, enquanto pilotam seus jet skis como se não tivessem culpa alguma.

Não à toa, os bolsolulistas estão concentrando esforços para atacar as reputações de seus adversários em comum: Ciro Gomes (PDT) vem sendo o alvo da vez. Do lado do atual mandatário do Planalto, chegaram a dizer que ele tinha conchavo com o petista. Já do lado do ex-presidente, estão dizendo que ele é, agora, apoiador do Bolsonaro. Passaram a mendigar voto dos eleitores da Simone Tebet (MDB), pra você ver como o nível está baixo. Imagina então o que não devem estar fazendo de pressão com os eleitores da Soraya, do D'Ávila e dos demais...

Nenhum dos dois tem, em pesquisa eleitoral nenhuma, os 50% dos votos mais um que garantem uma vitória no primeiro turno, e isso os têm deixado nervosos. Se bem que não dá pra levar pesquisa eleitoral a sério: ouvem pouquíssimas pessoas, dificilmente você encontra alguém que já foi ouvido por estes institutos e, numa boa, se pesquisa eleitoral fosse mesmo coisa pra se levar a sério, o próprio Bolsonaro não teria ganhado a disputa em 2018. Tenham santa paciência...

E nenhuma eleição presidencial, pelo menos desde 2002 (que é um ano que eu me recordo), foi decidida no primeiro turno. É ilusão, porque é certo que o índice de abstenção (aquelas pessoas que nem ferrando vão sair de casa pra votar) estará em torno de 20% do eleitorado. Pegando o número mais recente de eleitores aptos a votar no Brasil (156 milhões), já podemos dizer que pouco mais de 30 milhões nem vão às urnas.

OK, sobram pouco mais de 120 milhões de eleitores. Pelo menos 20 milhões de votos, já computados nas urnas, serão brancos ou nulos. Eu tô fazendo essa estimativa baseado em alguns números que vi da última eleição, onde o índice de votos brancos e nulos foi de 16%. Sobram 100 milhões.

Além do Bolsolula, ainda existem outros dez candidatos à Presidência da República que, querendo ou não, concentram alguns milhares de votos ou mesmo milhões. E você lembra que eu disse que nenhum dos dois polarizadores têm 50% dos votos mais um, né? Porque esses dois caras também são os candidatos mais rejeitados dos mesmos institutos de pesquisa que os apontam como favoritos. Como assim?

Que haverá segundo turno, isso é um fato. Quem estará lá ainda é um mistério, porque não dá pra tirar conclusão por motociata ou por carreata de candidato: nem moto, nem carro, vota. Pessoas votam e pessoas podem mudar de ideia. Por exemplo: o cara que pediu o impeachment da Dilma em 2016, o jurista Miguel Reale Jr., agora está nessa do voto útil pro PT.

Saberemos se o povo brasileiro tomou um pouco de vergonha na cara somente no mês que vem. Cravo que será no dia 30. E já adianto: qualquer voto dado a um desses polarizadores que, no fundo, são a mesma coisa terá sido um voto inútil à democracia, à decência e ao pouco de inteligência que esse povo um dia disse ter.

William Lourenço

Postar um comentário

AVISO: qualquer comentário que seja desrespeitoso ou ofensivo, ou que viole os Termos de Uso deste site, será automaticamente excluído pelos nossos administradores e, se necessário for, repassado à nossa Assessoria Jurídica para a tomada das devidas medidas cabíveis, dentro do que manda a legislação brasileira.

Postagem Anterior Próxima Postagem