OPINIÃO: 100 ANOS DO "IMBROXÁVEL" RÁDIO NO BRASIL

 

Foto de Victoria Borodinova para Pexels

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Por William Lourenço


Neste 7 de Setembro, dia em que, em tese, deveríamos celebrar os 200 anos da Independência do Brasil (já que, na prática, foi um monte de falso patriota pra rua, dependente do Jair Bolsonaro), também ocorre outro fato importante: o centenário do rádio em nosso país. E este fato, pra mim, é mil vezes mais importante.

Em 1922, quando o Brasil comemorava o primeiro centenário de sua independência, um homem chamado Edgar Roquette Pinto fez uma sugestão ao então presidente Epitácio Pessoa: que fizesse um pronunciamento ao povo do Rio de Janeiro (então capital nacional) por meio de um aparelho até então novo. A transmissão à distância e sem fios foi a primeira do rádio em nosso país, possibilitando que no ano seguinte, a primeira emissora de rádio como conhecemos fosse inaugurada: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (hoje Rádio MEC), em abril de 1923.

A regulamentação da radiodifusão no Brasil começou a acontecer a partir dos anos 30, quando Getúlio Vargas se tornou presidente. Ele logo viu que aquele seria um importante instrumento para conquistar o público e (porque não dizer) manobrar a população à sua maneira. A Voz do Brasil, programa odiado por ouvintes e pelos próprios donos de rádios país afora, surgiu em 1935 como um informe de tudo aquilo que vinha sendo feito pelo Governo Federal (ele é de transmissão obrigatória nas rádios brasileiras desde 1938). Um decreto assinado pro Vargas permitiu que mais emissoras de rádio pudessem ser inauguradas em todo o território brasileiro.

A Copa do Mundo de 1938, que ocorreu na França, foi a primeira a ser ouvida pelos brasileiros. Essa conexão do brasileiro com o futebol ficou ainda mais indissociável com as transmissões dos campeonatos regionais e nacionais que passaram a ser feitas a partir dos anos 40.

Foi também por meio do rádio que os brasileiros acompanharam os temores do Estado Novo implantado por Getúlio entre 1937 e 1945, os desdobramentos da Segunda Guerra Mundial do início ao fim... As radionovelas, programas de auditório e musicais tornaram o rádio um meio que também levava entretenimento, tornando-o ainda mais popular. A Rádio Nacional, sediada no Rio de Janeiro, era a líder de audiência nessa época por concentrar os donos e donas das vozes mais conhecidas.

Em 1950, o empresário paraibano Assis Chateaubriand (que era dono da Rádio Tupi) resolve, com autorização do governo brasileiro, inaugurar a primeira emissora de televisão da América Latina. A linguagem do novo meio foi totalmente influenciada pelo rádio, uma vez que os funcionários da Rádio Tupi ajudariam na consolidação da TV Tupi. Ali surgiu a preocupação de que o rádio poderia perder força.

Nas décadas seguintes, a TV foi chegando a cada vez mais casas. O diferencial dela pro rádio era visível: tinha imagens, tinha cores. Tudo aquilo que um dia era somente ouvido, poderia ser visto. A transmissão por satélite, implementada no Brasil em 1969, tornava a TV tão ágil quanto o rádio. Coube, então, se adaptar aos novos tempos.

A frequência modulada (FM), além de ampliar o alcance das ondas sonoras, ainda aumentava a qualidade de áudio em comparação com as estações de amplitude modulada (AM). As rádios segmentadas, que tocam determinados estilos musicais em toda sua programação, além das chamadas rádios all news (somente notícias) também se tornaram pontos importantes desta história.

Virando o século, chega a internet e, com ela, as redes sociais, plataformas como YouTube e o podcast (em termos chulos, um programa de rádio na internet onde você pode escolher o que quer ouvir sem ter que esperar o intervalo das rádios tradicionais acabar). O temor do fim do rádio novamente se encerrou, visto que, além de dinâmico, ele ainda pode ser ajustável.

O alcance de seu som foi expandido para o mundo inteiro, seja pelos sites das próprias emissoras ou mesmo pelas transmissões ao vivo (com imagens) dos estúdios por plataformas como o YouTube. E lembra do podcast? Agora, alguns programas de rádio também são disponibilizados em plataformas de streaming de áudio para serem ouvidos a qualquer hora, em qualquer lugar ou dispositivo. E dos mais variados gêneros.

O rádio se adaptou à nossa cultura, às transformações da nossa sociedade ano após ano, às mudanças tecnológicas, e chega aqui no Brasil aos seus primeiros 100 anos com uma disposição de 30.

Até por eu ter feito rádio durante um período dos meus quase dez anos de carreira, e hoje poder ser o locutor oficial dos episódios semanais do Podcast Cafezinho, considero essa comemoração mais importante. A dita Independência do Brasil, infelizmente, virou dia da puxação de saco a um político feita pelos muitos acéfalos que ainda existem em nossa sociedade. E, sinceramente, puxar saco de político, independente de quem seja, não tem nada a ver com o real conceito de independência.

William Lourenço

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