Nesta semana, as Forças Armadas ganharam destaque (além de virarem motivo de piada) pela revelação da compra de mais de 35 mil comprimidos de Viagra e 60 próteses penianas (Reprodução/Internet) |
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Por William Lourenço
Já estou há quase dez anos lidando com comédia e audiovisual. Há dois fazendo o Podcast Cafezinho, algo que eu considero o oposto do meu trabalho cômico. Mas existem situações em que o que é sério e o que é engraçado simplesmente se misturam. Este é um deles.
Foi revelado nesta semana que as Forças Armadas efetuaram a compra de itens como próteses penianas e milhares de comprimidos de Viagra. 35 mil comprimidos e 60 próteses, para ser mais preciso. Tudo isso com dinheiro público, vale sempre lembrar.
O Viagra, que tem na sua composição o citrato de sildenafila, foi sintetizado inicialmente pelo laboratório americano Pfizer em 1996 (ano em que o nome Viagra foi patenteado) para o tratamento da hipertensão e de uma doença cardíaca chamada angia. Durante a realização dos estudos, os farmacêuticos responsáveis perceberam que o remédio era pouco eficiente para a angia, e que os homens que tomaram esse comprimido ficaram com uma ereção prolongada, uma espécie de efeito colateral. Sem querer, eles descobriram um remédio eficaz no tratamento da disfunção erétil, que passou a ser comercializado no mundo inteiro a partir de 1998. Esse composto também é usado no tratamento da hipertensão arterial pulmonar, doença rara que afeta especificamente as artérias pulmonares, causando, dentre outros sintomas: cansaço, falta de ar, inchaço nas pernas e aumento da frequência cardíaca. As Forças Armadas disseram que compraram o azulzinho para essa finalidade, a do tratamento da hipertensão arterial pulmonar. Médicos disseram ao portal g1 que a dosagem recomendada de sildenafila para o tratamento da HAP é de 20 mg. As caixas compradas pelas Forças Armadas (a maioria para a Marinha do Brasil) têm dosagens de 25 e 50 mg, que são recomendadas justamente para a disfunção erétil. Ah, e a doença rara citada aqui (HAP) é mais frequente em mulheres.
Poderia deixar quieto e terminar o assunto por aqui, se na sequência não tivesse aparecido outra compra: a de 60 próteses penianas, também pelas Forças Armadas (que compreendem Exército, Marinha e Aeronáutica). Somente com essas próteses, foram gastos mais de R$ 3,5 milhões. E a única utilidade para essas próteses é de ajudar a manter mesmo os "membros" em pé por mais tempo. As próteses foram encaminhadas para hospitais militares dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. As Forças Armadas, nesse caso, informaram que só compraram três próteses.
Uma representação feita pelo senador Jorge Kajuru (Podemos-GO) e pelo deputado federal Elias Vaz (PSB-GO, que foi quem fez a denúncia na última segunda, baseado em dados extraídos do Portal da Transparência) será encaminhada ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério Público Federal já nesta quarta-feira, para que os órgãos avaliem se os militarem cometeram abusos nas compras desses itens. Em fevereiro do ano passado, esses mesmos militares haviam sido achincalhados publicamente por uma compra considerada imoral e absurda de mais de R$ 56 milhões em picanha, salmão e filé mignon. Foi pior porque o dinheiro era destinado para ações contra o avanço do coronavírus no Brasil por parte do Ministério da Defesa.
Como eu falei no título desta coluna, é cada vez mais broxante ver as notícias de Brasília. Ainda mais quando elas vêm de uma instituição que, vou sempre frisar, merece nosso respeito pela sua função constitucional. O que vem ocorrendo com as Forças Armadas do Brasil, sobretudo nos últimos quatro anos, é uma sucessão de constrangimentos e desmoralizações. Tenho amigos que hoje prestam carreira no Exército e na Marinha, e por eles eu sinto vergonha quando notícias assim saem na imprensa. Muito mais vergonha em ter que divulgá-las, sendo membro da imprensa.
Piadas ruins à parte, porque isso não deixa de ter seu lado engraçado, que os responsáveis se expliquem logo e, havendo alguma irregularidade, sejam devidamente punidos. Porque o povo já está de saco cheio de só se foder no Brasil. Inclusive de pagar quem come suas bundas.