Por William Lourenço
Em meus quase dez anos de tentativas, erros e acertos no audiovisual (passando por rádio, televisão, internet e, há dois anos, aqui no Podcast Cafezinho), uma das coisas que eu aprendi foi a seguinte: quando estamos em frente a uma câmera ou falando em um microfone, temos uma responsabilidade gigantesca perante aqueles que nos acompanham e devemos prestar muita atenção naquilo que falamos e termos certeza daquilo que iremos defender publicamente, porque há consequências boas e ruins de tudo aquilo que fazemos.
Dizer que não gosta de um livro, ou que não se simpatiza com tal clube de futebol, ou que vai votar no candidato X ou Y pode ser uma opinião tolerável, ainda que haja discordância. A defesa de um crime não. Ainda mais de um movimento tão nefasto e tão bárbaro como foi o nazismo.
O Monark ultrapassou todos os limites do aceitável para a famigerada "liberdade de expressão" ao, em um podcast de enorme alcance como o Flow, usar seu microfone para opinar favoravelmente a dar voz aos poucos imbecis e infelizes que ainda existem e compactuam com essa ideia de eliminação do indivíduo considerado diferente daquilo que esses doentes consideram uma "raça superior".
A defesa da criação de um partido nazista no Brasil não é apenas desrespeitoso com a comunidade judaica, ou uma ideia incabível sugerida por um cara bêbado: é considerado um crime. Apologia ao nazismo é crime previsto na Constituição Federal brasileira e na Lei 7.716/89 (lei antirracismo):
Art. 20
1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
E até a Embaixada da Alemanha, país onde surgiu esse movimento nojento nos anos 30, teve de se manifestar dizendo que "apoiar o nazismo não é liberdade de expressão".
O agora ex-apresentador do Flow, ao ver a péssima repercussão de sua fala (que já era esperada), ainda deu uma desculpa pra lá de esfarrapada: que estava bêbado. Existem pesquisas científicas que apontam que o excesso de álcool estimula uma região do cérebro responsável pela sinceridade, fazendo com que os bêbados falem tudo aquilo que pensam. Se foi o caso dele, eu não sei. Abaixo está o comunicado dos Estúdios Flow sobre o ocorrido:
Como eu falei em uma postagem no Twitter, somente quem nunca estudou História, ou é muito estúpido, ou mal caráter mesmo, tem a pachorra de defender publicamente algo tão abominável quanto foi o nazismo, ainda que diga que seja somente a criação de um partido. Quem compactua e compartilha essa ideologia não merece espaço, não merece voz, não merece tolerância. Porque o mundo já viu que quando eles têm espaço, voz e tolerância, as consequências são catastróficas.
A liberdade individual de expressão jamais deve atropelar a liberdade coletiva. Principalmente a da vida, como o nazismo já o fez no passado. Apologia ao nazismo jamais deve ser considerado liberdade de expressão. Essa bola fora do Monark é, por si só, gravíssima, mas não foi a primeira dele, e isso torna tudo ainda pior pra ele.
Novamente, liberdade de expressão jamais deve ser confundida com endossar e influenciar os que te ouvem a cometer um crime, qualquer um. A isto não tem censura, mas sim consequências previstas em lei. Cada um pode sim dar sua opinião, pois esta é uma democracia, sabendo que é responsável por aquilo que fala e vai assumir as consequências daquilo que fala. Para ele, parece que algumas das consequências chegaram rápido: além de sua "demissão", patrocinadores pularam fora, entrevistados pediram a remoção de suas participações no podcast da internet, outros que seriam entrevistados cancelaram suas participações (como o ex-jogador Zico, que iria hoje) e até plataformas de streaming pararam de distribuir o Flow (como a Amazon Music).
Eu até tinha um pouco de respeito pela pessoa do Monark, mas depois dessa cagada, acredito que o melhor a ser feito é deixá-lo sem dar opinião alguma por um bom tempo. E, sendo o caso, que a lei o responsabilize por suas "opiniões". Não há defesa para esse tipo de excremento verbal.