OPINIÃO: A DESUNIÃO SOVIÉTICA

 

As rusgas entre Rússia e Ucrânia vêm desde os tempos da antiga União Soviética, piorando desde 2014, com a indexação da Crimeia (território ucraniano) ao território russo e, desde quinta-feira, com a invasão do exército de Vladimir Putin ao país do leste europeu (Reprodução/Internet)

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Por João Gabriel Silva
Jornalista (DRT 0007293/PE) e Historiador formado pela Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde (AESA)

Que tem ideias tão modernas
E é o mesmo homem que vivia nas cavernas...

Engenheiros do Hawaii

 

Guerra. O mundo volta a ser assolado por um conflito que, por enquanto, está restrito ao leste europeu: Rússia e Ucrânia estão no centro das atenções do mundo. O medo de uma terceira guerra mundial paira sobre alguns, mesmo sendo bastante improvável tal acontecimento, uma vez que isso poderia significar o fim do planeta que conhecemos.
A diplomacia mundial tenta resolver pacificamente esta contenda que têm raízes históricas ligadas ao fim da Guerra Fria e da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) ocorrida na primeira metade da década de 90, que deixou muitas questões mal resolvidas que reverberam até os dias atuais e que surgem par atender os desejos autocráticos do Presidente Russo Vladimir Putin, que ascendeu politicamente no final da União Soviética. Para entendermos melhor esse conflito, vamos voltar um pouco no tempo. 
A URSS tem início logo após a Revolução Russa em 1917 com a queda dos Romanov e o início do governo socialista liderado por Vladimir Lênin, seguido por Stálin, que governou com mão de ferro até sua morte em 1953. A isso seguiu-se o governo de Nikita Kruschev, que implementou uma desestalinização, denunciando os crimes praticados por ele e fazendo gradativas mudanças na condução do país. Mesmo assim, a URSS continuou tendo papel relevante nas geopolítica mundial, uma vez que vivia-se o contexto da Guerra Fria — disputa entre EUA e URSS pelo controle político e econômico pós-Segunda Guerra Mundial, onde esses dois países tinham um incrível arsenal nuclear que poderia destruir o mundo. Porém eles não entravam em confronto direto, era algo mais ideológico —, onde esta financiava disputas em países que tentavam implementar o “comunismo”.

Vladimir Putin tem 69 anos. Foi oficial da KGB (antigo Serviço Secreto da União Soviética) e diretor do FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia). Iniciou na política como vice-prefeito de São Petersburgo em 1994 e, desde 1999, se alterna no poder nos cargos de primeiro-ministro e presidente da Rússia.


Na segunda metade da década de 80, Mikhail Gorbachev assumiu o país em meio a uma crise sem precedentes, fruto de sucessivos erros na busca por ganhar dos EUA. O caos reinava e era preciso transformações drásticas. Duas mudanças foram implementadas por Gorbachev: a realização de duas reformas conhecidas como Glasnot (transparência política) e Perestroika (reconstrução econômica). Não deu certo, pois isso mexia com interesses caros às oligarquias políticas que queriam manter-se no poder. Um golpe militar foi tentado. Contudo, não obteve sucesso, e Gorbachev continuou no poder até não conseguir mais se sustentar e renunciar ao governo. Ao final do ano de 1991, terminava-se a URSS dando lugar a uma liga de estados independentes: Rússia, Belarus, Estônia, Ucrânia e outros, totalizando 15 países ao todo.
Nesse contexto, o principal ator desta guerra que estamos assistindo nesse momento ascendeu até tal posto. Durante esse período, Putin cresceu dentro da principal agência de inteligência russa, a KGB (Komitet Gosudarstvennoi Bezopasnosti) ou, em português, Comitê de Segurança do Estado. Entretanto, essa história é cercada de mistérios e imprecisões.
Fato é que Putin galgou altos postos e estabeleceu contatos importantes com políticos e empresários que foram beneficiados com a queda da União Soviética, os chamados Oligarcas Russos. Isso lhe rendeu a indicação de suceder Boris Iéltsin no ano de 1999. Desde então, ele se mantém no poder reprimindo opositores e fazendo diversas mudanças constitucionais que lhe permitem permanecer no poder indefinidamente.
Feito esse aporte histórico, voltemos ao foco: Putin, nascido e inserido nesse contexto, como muitos outros russos, nunca aceitou de bom grado perder os territórios da URSS. Ainda mais que essas ex-nações soviéticas vêm se aproximando cada vez mais do ocidente e dos Estados Unidos, tornando-se membros da União Europeia e da Otan Organização do Tratado do Atlântico Norte, criada em 1949 depois do final da Segunda Guerra Mundial e reunindo países ocidentais encabeçados pelos EUA, que têm estabelecido bases militares em territórios próximos a Rússia, segundo Putin, ameaçando o país dele. Nesse escopo, a Ucrânia sinalizou aderir à Otan. Isso foi mais um pretexto para o líder russo se lançar ao ataque, visto que desde 2014 há menção a tal fato, já que o território da Crimeia foi anexado ao governo do Kremlin.
Segundo Putin, há outras razões para esse ataque: de acordo com ele, a Ucrânia está tomada por neonazistas, mesmo o presidente ucraniano (Volodymyr Zelensky) sendo judeu. Ou seja, ele quer criar além da “narrativa” de uma ameaça americana, a lembrança cultural das provações passadas pelo povo russo causadas pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Volodymyr Zelensky tem 44 anos. Formado em Direito, iniciou sua carreira no entretenimento em 1995 na Ucrânia como comediante, produzindo e atuando em diversos filmes e séries. Em sua última série, O Servo do Povo (2015), ele interpretou um professor de história que viraliza na internet com um vídeo protestando contra a corrupção e se torna o presidente de seu país. Em 2019, Zelensky se candidata à Presidência da Ucrânia e vence a eleição no segundo turno em cima de Petro Poroshenko, candidato apoiado por Vladimir Putni.


Vladimir Putin quer apenas o retorno de uma suposta e antiga glória da União Soviética: redesenhar o mapa da Europa, concentrar mais poder do que já tem, tornar-se um Czar e consolidar seu reinado. Algo a ser mencionado é que o ocidente permitiu com sua fraca diplomacia o que estamos presenciando, porém não se deve demonizar UE ou os EUA. 
Pois eles tiveram nesse tempo sucessivas mudanças de poder enquanto Putin se manteve sempre à espreita, planejando cada passo, visto que esse ataque não é algo de momento: foi algo planejado há muito tempo.
Agora, resta-nos torcer para que o relógio do apocalipse não anuncie o fim do mundo.
 
 
O “eu”, por trás de nós oculto,
É muito mais assustador,
E um assassino, escondido em nosso quarto,
Dentre os horrores, é o menor.
Emily Dickinson
 
 
 
 

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  1. Um texto jornalístico sério que situa o leitor na história antes de informar sobre o tema de interesse e apresentar as opiniões e críticas do autor.

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