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Por William Lourenço
Essa coluna de Opinião é destinada exclusivamente a você que, enquanto a COVID estava matando gente a rodo, quis fechar os olhos e seguir sua vida como se nada estivesse acontecendo; que, quando surgiu a possibilidade de se criar uma vacina, foi um dos primeiros a compartilhar nos grupos do Whatsapp mentiras sobre essas vacinas terem chips de computador, causarem AIDS ou mesmo câncer; que, iludido por um tesão oculto (em um Presidente) enrustido de patriotismo, simplesmente quis negar a existência de um problema de saúde global; e que, agora que estamos começando a sair de fato desse problema com a vacinação e dos cuidados tomados, independente do seu "mito", quer tentar dar uma passada de pano e dizer que agora não é mais hora de voltarmos à normalidade.
Sim, seu hipócrita: esse texto eu dedico totalmente a você!
Mas antes que me acusem de tal coisa, eu também tenho que dizer que sou hipócrita. Hipócrita em dizer que sou hipócrita também. É um mal humano, um defeito de fábrica irreversível. A hipocrisia consiste basicamente no ato de fingirmos ser aquilo que não somos, ter aquilo que não temos, de não fazer aquilo que falamos ou verbalizamos como o correto, e o pior: esse tipo de pessoa exige que os outros encaixem suas vidas em modelos morais que ele mesmo não segue. É, por si só, uma pessoa detestável.
Jesus Cristo, aliás, é o maior exemplo daquele que odeia os hipócritas: no caso citado na Bíblia, os hipócritas são os "falsos profetas" que utilizam o nome de Deus para obter lucros e vantagens terrenas (não muito diferente dos dias de hoje). Os políticos são considerados seres hipócritas por isso: passam um modelo em seus discursos de campanha (sendo, geralmente, contra a corrupção), e vivem outro depois de eleitos (sendo, geralmente, envolvidos em processos que envolvem desvio de dinheiro público).
A política e a religião reúnem um celeiro dos maiores hipócritas da história da humanidade. E quando esses dois setores fazem uma intersecção, aí é que podemos separar os piores deles. Quantos políticos brasileiros nós já não vimos pregando os nomes de Deus, da família, dos tais bons costumes, que foram pegos depois roubando, matando, traindo, trocando de família mais do que se troca de par de meia? Qual nome nós damos a esse tipo de gente? Hipócritas!
A pandemia trouxe novamente essas pessoas à tona: seja de esquerda, direita ou centro, o enfrentamento à COVID-19 no Brasil tornou-se, desde a confirmação do primeiro caso, uma guerra de hipócritas. No Palácio do Planalto, há quem diga que esteja o maior deles, agindo de forma hipócrita desde o primeiro dia naquela cadeira. Na oposição, parlamentares que fizeram embate defendendo supostamente a moral do país, e que (vejam só) tinham processos correndo na Justiça também por danos à administração pública brasileira. O problema foi reduzido à defesa de quem estaria menos errado na história. Tudo faltando um ano para uma nova eleição presidencial. Como nós podemos chamar isto? Hipocrisia!
Foram quase dois anos dessa ladainha, que resultou em mais de 600 mil pessoas mortas. Dizer que não foi nada é hipocrisia, e um desrespeito a todos que perderam um parente, um amigo ou um conhecido pra essa doença. Tentar sabotar de todas as formas as armas conhecidas de enfrentamento à doença (medidas de restrição e vacinação) e agora, que finalmente estamos saindo dessa crise, não querer voltar à normalidade que, em tempos de caos, fingiam estar acontecendo, é hipocrisia e safadeza da sua parte, caso pense assim. Não interessa se o pretexto que você usa é por causa do Carnaval, ou do Reveillón, ou do São João: não cola!
A pandemia está regredindo, ainda bem, mas ainda teremos uma árdua e difícil batalha para acabar com um mal que assola a humanidade há milhares de anos, foi a causadora de milhões de mortes e é a causadora de muitos dos problemas crônicos enfrentados por nossa sociedade: a hipocrisia. Se você fala uma coisa e faz outra, e finge ser quem você não é apenas para agradar aos outros, sugiro que procure ajuda. Quanto antes diagnosticar esse mal, maiores são as chances de tratamento e de uma vida mais tranquila e menos contraditória.