O presidente Jair Bolsonaro, que havia criticado publicamente o exame, agora adota um discurso de que não viu as questões. |
Por William Lourenço
Amanhã é o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio em todo o Brasil. A nota do ENEM é utilizada para estudantes ingressarem em muitas faculdades públicas, e até garantir bolsas de estudo em faculdades particulares por meio do ProUni ou pelo FIES. Eu sei disso porque em 2012 eu fiz o ENEM e, com a nota dele, consegui entrar no curso de Rádio e TV da Anhembi Morumbi.
Mas neste ano, o que mais ganhou destaque foi uma possível interferência política no conteúdo do exame. O presidente Jair Bolsonaro vinha reclamando que as questões do ENEM estavam tendo um cunho ativista, e teria pedido ao INEP, órgão subordinado ao Ministério da Educação e responsável pelo ENEM, que trocasse a referência ao regime militar de 1964, classificado como golpe, por revolução. Não bastasse isso, ele ainda havia dito que esse ano, o exame teria a "cara do governo". E realmente tem: com denúncias de interferência política e saída de servidores. Foram ao menos 37 que pediram demissão após a explosão do escândalo.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o presidente do INEP, Danilo Dupas, negaram que o presidente ou qualquer membro do governo tenha tido acesso ao caderno de questões do exame. Os dois disseram que o ENEM desse ano teria a cara do governo no sentido da competência. Verdade, porque esse será o ENEM com o menor número de inscritos confirmados desde 2005: pouco mais de 3 milhões e 300 mil. Denúncias de servidores do INEP foram reunidas em um dossiê e entregues ao Tribunal de Contas da União e à Controladoria-Geral da União, dentre outros órgãos de controle e investigação. Dentre essas denúncias, estão casos de perseguição, censura a questões consideradas sensíveis aos governistas, assédio moral aos servidores e indícios de uma indução ideológica do exame por parte do presidente da República.
Já sabíamos há tempos que o presidente era burro a ponto de não saber responder uma prova, mesmo tendo dito numa entrevista que, se o colocassem do lado de Lula e Dilma, ele se garantia. Agora, quanto a essa tentativa descarada de desmanchar a educação brasileira (e isso é mais sério do que você pode imaginar), só posso dizer o seguinte: a prova, se sair a cara do governo, só vai ter uma questão. Quanto é um mais um. Quem acertar, passa. E ainda é arriscado o Bolsonaro errar essa questão, se estivesse com o Lula e a Dilma na mesma sala fazendo a prova...