OPINIÃO: ENEM 2021 TERÁ A "CARA DO GOVERNO", COM SERVIDORES PEDINDO DEMISSÃO E DENUNCIANDO INTERFERÊNCIA POLÍTICA NA PROVA

 

O presidente Jair Bolsonaro, que havia criticado publicamente o exame, agora adota um discurso de que não viu as questões.


Ouça essa coluna de Opinião no Episódio 19 do nosso podcast (escolha aqui seu streaming de áudio favorito)

Por William Lourenço


Amanhã é o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio em todo o Brasil. A nota do ENEM é utilizada para estudantes ingressarem em muitas faculdades públicas, e até garantir bolsas de estudo em faculdades particulares por meio do ProUni ou pelo FIES. Eu sei disso porque em 2012 eu fiz o ENEM e, com a nota dele, consegui entrar no curso de Rádio e TV da Anhembi Morumbi.

Mas neste ano, o que mais ganhou destaque foi uma possível interferência política no conteúdo do exame. O presidente Jair Bolsonaro vinha reclamando que as questões do ENEM estavam tendo um cunho ativista, e teria pedido ao INEP, órgão subordinado ao Ministério da Educação e responsável pelo ENEM, que trocasse a referência ao regime militar de 1964, classificado como golpe, por revolução. Não bastasse isso, ele ainda havia dito que esse ano, o exame teria a "cara do governo". E realmente tem: com denúncias de interferência política e saída de servidores. Foram ao menos 37 que pediram demissão após a explosão do escândalo.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o presidente do INEP, Danilo Dupas, negaram que o presidente ou qualquer membro do governo tenha tido acesso ao caderno de questões do exame. Os dois disseram que o ENEM desse ano teria a cara do governo no sentido da competência. Verdade, porque esse será o ENEM com o menor número de inscritos confirmados desde 2005: pouco mais de 3 milhões e 300 mil. Denúncias de servidores do INEP foram reunidas em um dossiê e entregues ao Tribunal de Contas da União e à Controladoria-Geral da União, dentre outros órgãos de controle e investigação. Dentre essas denúncias, estão casos de perseguição, censura a questões consideradas sensíveis aos governistas, assédio moral aos servidores e indícios de uma indução ideológica do exame por parte do presidente da República.

Já sabíamos há tempos que o presidente era burro a ponto de não saber responder uma prova, mesmo tendo dito numa entrevista que, se o colocassem do lado de Lula e Dilma, ele se garantia. Agora, quanto a essa tentativa descarada de desmanchar a educação brasileira (e isso é mais sério do que você pode imaginar), só posso dizer o seguinte: a prova, se sair a cara do governo, só vai ter uma questão. Quanto é um mais um. Quem acertar, passa. E ainda é arriscado o Bolsonaro errar essa questão, se estivesse com o Lula e a Dilma na mesma sala fazendo a prova...

William Lourenço

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