Presidente Jair Bolsonaro e sua comitiva andando pelas ruas de uma cidade italiana (Reprodução/ BBC Brasil) |
Por William Lourenço
O Presidente Jair Bolsonaro está desde sexta-feira na Itália fazendo sabe-se lá o que. Mais turismo do que efetivamente assunto de Estado, com certeza.
Ele e sua gigantesca comitiva de puxa-sacos, digo, assessores e ministros, foram à reunião da cúpula do G20, grupo das vinte maiores potências econômicas do planeta. As más línguas dizem que ele iria para Glasgow, na Escócia, mas quando soube que lá teria a COP-26, reunião das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, resolveu desembarcar em Roma.
Tirando algumas poucas entrevistas com um ou outro jornalista italiano (mais pra dizer sobre o 'lindo país" que ele preside, onde tudo funciona e que só ele vê; descer o cacete na CPI da COVID e no Lula), Bolsonaro só está batendo perna. E seus seguranças resolveram bater em jornalistas: os alvos, para surpresa geral de nenhuma pessoa, foram profissionais da TV Globo e da Folha de São Paulo (veículos de imprensa que o Bolsonaro odeia com veemência). A pancadaria, ocorrida ontem, durante- vejam só- uma caminhada do Presidente também feriu alguns de seus apoiadores. Democracia é isso: direitos iguais.
Em um ato contra Bolsonaro organizado hoje, a Polícia italiana resolveu agir jogando água nos manifestantes. Enquanto isso, ele foi a Pádua, em Anguillara Venêta: local de onde saíram os seus antepassados e onde irão lhe conceder uma honraria. Eu também não sei o porquê! É tão estranho quanto se eu fosse a Lazio e, só porque meu bisavô veio de lá, o prefeito me desse uma medalha ou a chave da cidade.
Essa viagem do Bolsonaro mais me parece uma tentativa de vender a falsa ideia de que, aqui no Brasil, tudo corre bem: que tudo que já foi falado sobre corrupção, rachadinha, Queiroz, CPI, pandemia, 600 mil mortes, cloroquina, dólar alto, Pandora Papers e muitas outras coisas foram inventadas pela esquerda que "quer a volta do comunismo", como se esse regime tivesse existido em algum momento no nosso país. Que ele é o bem e que todo aquele que não concorda com sua condução, ou não se curva a vossa senhoria, é mal.
Ele está querendo exportar seu negacionismo e sua visão distorcida de Brasil. Tem quem compre a ideia, claro. Ainda mais no país onde, em 1925, um cidadão que pensava e falava parecido com o Jair (contra o comunismo, nacionalista, tendo desprezo pela democracia eleitoral e de pensamento de extrema-direita) assumia o poder e ficaria conhecido mundialmente, e perpetuado na história, como o principal líder do Fascismo.